O Homem Que Não Sabia Ler

 

O Coronel macambira, ou melhor, dizendo Senhor Manoel Teixeira Mattos, pegou o apelido de Coronel Macambira, ou codinome, como queira, devido ao seu modo ríspido de tratar a cabroeira.

Dentre os seus vaqueiros “quase todos analfabetos” havia apenas João ligeiro que sabia ler. Por ser o mais capacitado era justamente o capataz da Fazenda Triplo M no sudeste do Ceará.

O João ligeiro era rápido, e fazia jus ao apelido. Além de rápido era traiçoeiro. Foi durante um jogo de cartas, numa dessas mesas de jogo na bodega do Joaquim que ele teve uma fervorosa discussão com Manoel das traças, outro vaqueiro da Fazenda.

A rixa foi ficando mais enraizada, na alma e no coração de João Ligeiro, quando ele ficou enamorado por Carmelita, que por sua vez havia se apaixonado justamente por Manoel das traças.

O capaz necessitava se livrar do vaqueiro Manoel. Então maquiavelicamente premeditou uma forma de conseguir o seu intento. Como troféu teria o caminho aberto para conquistar a Carmelita.

João Ligeiro pediu ao patrão que enviasse um mensageiro até a capital Fortaleza para levar o pedido dos mantimentos e provisões para a fazenda. Nisso, após obter o aval do coronel Macambira, designou o Manoel.

O inocente vaqueiro seguiu viagem levando consigo, além dos alimentos necessários para a longa viagem, uma carta. Alguns dias depois chegou ao seu itinerário. Entregando a carta ao receptor que a leu, e confirmou o pedido afirmando que seria entregue o, mas breve possível. 

Quando estava mais ou menos no interlúdio do caminho, na bifurcação que dava acesso a estrada que o conduziria de volta, apenas pode ouvir um estampido forte, que mais parecia um trovão.
Fora um tiro de espingarda cano duplo, comumente denominado de “doze”. A vereda empoeirada recebeu o corpo inerte de Manoel como a quem recebe um saco de batatas, mole e sem vida.

Ao passar dos dias, a cabroeira começou a estranhar a longa ausência do Manoel das traças, especialmente a Carmelita. O fato chegou ao conhecimento do Coronel Mattos por intermédio da própria.

Um tanto preocupado, não com o Manoel, e sim com os mantimentos para a fazenda. O Coronel enviou outro mensageiro que retornou dias depois da chegada das provisões. O retornou do mensageiro trouxe a trágica noticia da morte do vaqueiro Manoel das traças.

A Bela Carmelita quase que diluísse em lágrimas, tamanha foi a sua tristeza. Alguns dias se passaram até que o João ligeiro voltasse a procurar insistentemente por ela. Mas a jovem por João nada sentia senão desprezo e suspeitas. Desconfiava que tivesse o dedo do João naquele episódio, e não iria descansar enquanto não tirasse aquela história a limpo.

Assim como foi dito, não há nada embaixo do sol que esteja encoberto que não seja descoberto. A referida carta designada pelo João e levada por Manoel regressou por intermédio de um mensageiro que viera cobra ao capaz por um “serviço” feito alguns meses atrás.

Por falta de sorte, ou simplesmente azar, a carta foi entregue diretamente ao Coronel Macambira que irado gritou pelo João. O estrugido do Coronel atraiu toda a cabroeira que veio, a saber, o conteúdo da carta. Na qual não continha apenas o pedido das provisões, havia outra contendo uma encomenda de morte.

Os vaqueiros revoltados com a covardia do Capataz João ligeiro o lincharam na hora. Arrancaram a missiva das mãos do mensageiro e levaram na até Carmelita que aos prantos e soluços a leu em voz alta; “Encomendo a morte do portador desta logo após ele entregar a correspondência. Não se preocupe com o portador, ele não sabe ler”.

Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 06/01/2018
Reeditado em 22/10/2022
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