A cidade de mortos

Ninguém é jovem, Ninguém é criança, Ninguém é velho, Ninguém é adulto… Ninguém fala por ti, Ninguém fará por ti, Ninguém gosta de ti… Todos nele confiam; pois “Ninguém” preocupa-se com todos. Ninguém tornou-se todos. Todos tornaram-se ninguém porque esperavam um alguém como ninguém para representa-los.

Um dia de vida na habitação de mortos, conheci o jovem “ninguém”… Andava Eu pela sua fenda quando a loucura das sombras dava asas à esperanças enganosas e os homens que perseguiam o vento começaram a persegui-lo. Todos queriam ser “O ninguém”. Usavam-te para ocultar a identidade; enquanto a imensidão do oceano proclamava o custo da navegação e o espetáculo das ondas atravessava sonhos sonâmbulos em cadáveres ambulantes, os preços formavam ecos nos bolsos propagando-se sem voz. O medo temia-me a espinha porque ninguém queria ser alguém, ninguém queria tornar-se um herói na cidade de mortos.

Quando aumentaram os preços ninguém estava la (aumentaram o preço de pão; ninguém esteve la, aumentam o preço de transporte pela segunda vez e de novo ninguém esta lá), presidência aberta ninguém esta la para falar dos reais problemas da sua cidade morta, aliás, da Cidade de mortos porque ele vive sozinho la. Tudo esta nas mãos de ninguém.

– Quem? Eu?

– Sim, você mesmo seu ninguém. Tudo você decide. Veja só: ninguém define o nosso destino, ninguém traça o nosso futuro. Ninguém grita, ninguém diz não, ninguém faz tudo por nós. Ninguém és tu que fazes tudo o que ninguém faz, somente você!

Ninguém cria greve e revolta, faz escândalos e tumultos. Assim pensam: - Ninguém pode com o sistema! É verdade ninguém pode. Ninguém é defensor da sua terra.

Ninguém é defensor de Katembe.

Katembe, terra de ninguém…

Chipuale
Enviado por Chipuale em 27/12/2017
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