O ÚLTIMO ADEUS

Da janela do ônibus, alguém dá adeus a quem fica, que acena com uma das mãos, trêmula de saudade. Ambos (com os semblantes emocionados) secam as lágrimas com lenços que os guardam, cada um, sobre o peito esquerdo. Ele, (no ônibus) no bolso da camisa listrada. Ela, (na estação) no bolso da blusa estampada. Recém-casados, mal tiveram tempo de curtir a lua-de-mel, que foi tão curta, e voltaram dela, antes do tempo previsto. Voltaram, mas ela ficou inconformada. Agora ele, ficou sem saber como consolá-la. Apenas disse-lhe que a viagem era inadiável, e o motivo, já lhe havia explicado. Por que teria que ser assim? Por que se casariam e teriam que ficar em tão pouco tempo de casados, separados um do outro? Enquanto o ônibus não partia, as mãos continuavam se acenando, separadas, sem saberem quanto tempo se uniriam de novo. O coração dela batia forte, talvez mais forte do que o dele. Ainda lhe disse num sussurro: - Desista, amor, desista, deixa pra ir depois. E ele: - Não, amor, eu preciso ir. É só o tempo de resolver, o que tenho que resolver. Vai ser bom pro nosso futuro juntos. Ele continha as lágrimas. Ela, não. Lhe fluíam como um rio caudaloso pela face rubra. O lenço não mais as secava. Estava ensopado do pranto de despedida. O cobrador avisa: - Senhora, nós já vamos. O ardoroso beijo selou a separação momentânea. Finalmente, o ônibus parte. Tão emotivos, dão-se o último adeus. Ela volta pra casa, desolada e desanimada. O corpo está cansado. Não sabe por que, algo alheio ao seu entendimento a preocupa tanto. Uma cefaléia faz ela deitar-se. Pega no sono. O celular toca. Acorda assustada. Já é noite. Puxa, dormi muito, pensa. - Alô, quem fala? - Senhora, aqui é da polícia rodoviária federal. - O que houve, por que está me ligando? - Senhora, houve um acidente. Um ônibus despencou num despenhadeiro e há vários mortos e feridos. O seu marido, infelizmente, está entre os mortos.

Escritor Adilson Fontoura