REENCONTRO
 
Ao acordar, olhos e corpos nostálgicos. Juliette pensa em sair, visitar antigos colegas, no entanto, nestes quinze anos que esteve fora, não mantivera contato com nenhum deles.
Se princípios políticos, morais e sociais modificaram-se, com certeza, mudaram-se de bairro ou, até mesmo, de cidade. Ciente de que sua jornada será tal qual “procurar uma agulha num palheiro”, ainda que tanto desanimada e triste, levantou-se e, após fazer um lanche, partiu em busca de seu passado.
A caminhada faz sua saudade aflorar. Por várias vezes, para e olha à sua volta a procura de mundo em que inteligência e razão eram pré-requisitos amizade, esperança e futuro promissor, elementos que, não só embalaram sonhos, mas valorizaram vínculos afetivos.
Ao tocar na primeira campainha, decepção. Há cinco anos, a moradora comprara o imóvel.  
Em seu rosto, a certeza de que encontraria alguém e, que esse ou essa, dar-lhe-ia notícias dos demais.
Em inúmeras portas, bateu. Nada. Via, em épocas passadas, momentos de felicidade e companheirismo; não podia desistir. Isso não seria o fim de seu caminho, mas o início. No grupo, harmonia e respeito.
Distraída, ao descer a rua, tropeçou numa laje e caiu. Fratura exposta. O taxista que a socorreu, levou-a a emergência do São Lucas. Durante o percurso, avisou a mãe do ocorrido e disse que estava indo a um hospital. Mais tarde, ligaria. 
Juliette, inicialmente, foi atendida por um clínico, que a submeteu a vários exames. Após, encaminhou-a a um cirurgião traumato. Qual surpresa! O médico era um dos ex-colegas que procurava.
– Bruno, não vais acreditar, caí enquanto peregrinava atrás de vocês. Que notícias tens da turma?
– A Juliana está na Austrália; a Berenice, na Nova Zelândia; o César, na Irlanda; a Melissa, em Fortaleza; o Felipe, no Rio de Janeiro; a Bruna, em São Paulo; a Gabriela, no Paraná; o Henrique, em Santa Catarina; a Carol, a Helena e eu, em Porto Alegre, não abandonamos a terrinha.
– Conta-me mais. Como vocês mantiveram o contato?
– Isso fica para amanhã. Temos muito trabalho pela frente.
No dia seguinte, Juliette, ansiosa, aguardou a visita do amigo, o Dr. Bruno. Esse veio acompanhado das meninas que continuavam morando na cidade. Ela se emocionou ao vê-los.
Carol contou-lhe que Bruno sentiu-se abandonado quando ela fora para a França, ele tinha uma quedinha por ela. Por longo tempo, vivenciou a sensação de abandono e perda. A vida, às vezes, parecia-lhe não ter sentido, aprisiona os bons momentos que, provavelmente, traz registrados em suas lembranças.
A turma tudo fez para animá-lo e, aos poucos, sua insegurança afetiva e social foi superada. O importante foi que ele voltou a viver; resgatou a beleza da vida; deixou de ser a imagem de um passado e traçou um caminho responsável e fantástico, um mundo de amor, ética e profissionalismo. Bruno teve duas ou três namoradas, entretanto, os relacionamentos não eram duradouros.
Juliette, ao receber alta, passou aos amigos o endereço dos pais e pediu-lhes que mantivessem o contato. Nas suas presenças, sentia-se segura e protegida.
Certo dia, ao oferecer um jantar, em agradecimento,  pelos cuidados e carinho recebidos, disse-lhes que o trio tinha lhe ensinado a ver a vida com otimismo e esperança. De repente:
– Gente, um minuto de atenção. Bruno, queres namorar comigo? O amor que trazemos em nossos corações é que faz de nós, pessoas especiais.
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 23/12/2017
Reeditado em 16/12/2018
Código do texto: T6206798
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