Pedro Soares Cavalcante mais conhecido como Pedro Valente, homem cruel e destemido, há quem diga que era o segundo Lampião. Nascido em Mata Grande Alagoas Pedro levava a fama de alagoano temido e inescrupuloso. Conta-se que matou pra mais de cem, sua fama começou em Santa Brígida na Bahia...

   Certa tarde de verão o calor abrasador causticava o solo sofrido do sertão baiano, Pedro chegava a Santa Brígida sempre armado com dois revolveres calibre 38 e não levava desaforo pra casa. Aos 22 anos entrou numa briga de bar, na qual acabou desferindo quatro tiros de sua arma no peito de José Firmino matando-o na hora. Este episódio desencadeou uma “guerra”. José Firmino era um sujeito pacato, mas quando esquentava a cabeça nada nem ninguém o enfrentava.

A família do falecido queria vingança, os irmãos se reuniram num grupo de cinco, com intuito de matar o alagoano. Fizeram uma tocaia em plena caatinga, ao sol abrasador do meio dia. O primeiro tiro desferido em Pedro acertou seu antebraço esquerdo. Mesmo ferido ele revidou ao ataque, desencadeando um tiroteio infernal. Aquele sujeito derrubou logo três adversários na primeira rajada de tiros dos seus revolveres, faltavam apenas dois e mais um que ficara apenas ferido...

 – Venham cambada de frouxos, cinco homens contra um é covardia – Ululava o valente Pedro.

   O cheiro álacre de pólvora poluía todo o ar envolto, os estampidos de tiros parecia não acabar mais, pouco depois... Tudo silêncio não se ouvia mais tiro algum. Pedro Valente (o único sobrevivente) deste fatídico episodio encontrava-se todo ensangüentado, perfurado por tiros, mais estava bem vivo. A crueldade lhe dava forças, mesmo ferido arrancou as cinco cabeças de seus atacantes e seguiu para a cidade, lá chegando foi socorrido por Valdenor, o enfermeiro curandeiro da região. Da família de José Firmino só restaram, o pai João Firmino e uma irmã.
 
Pedro Valente enviou as cinco cabeças decapitadas para o João Firmino, que ao receber a encomenda macabra ficou irado, apossando-se de sua espingarda calibre 12 saiu à procura do assassino de seus filhos encontrando-o no Bar de Zé das Cabras...

– Pedro Valente cabra de peia apareça para morrer – Gritava João do lado de fora do bar.

   Pedro Valente saiu de armas em punhos, não dando tempo de João atirar, acertou dois tirombaços no peito esquerdo, acabando assim com o último dos Firminos.

– Esse aí era homem valente – Dizia Pedro apontando para o corpo inerte e ensangüentado de João Firmino. – Valia mais que os seis filhos juntos – comentou.

Dia a dia Pedro Valente aumentava ainda mais a sua fama. Ninguém se metia a besta com ele. Até que certo dia, João da Onça (Caçador de Onças) não aceitando sua fama decidiu tirar a limpo qual dos dois era realmente valente.

Pedro Valente estava na calçada do boteco da “Dinda” quando ele apareceu desafiador...  – Pedro cabra da peste quero ver se tu és bom de tiro como dizem, se não for, preparasse para morrer – disse João da Onça segurando firme na coronha de sua inseparável escopeta calibre 12 de cano duplo. O valente alagoano pulou de lado já com os dois cospe fogo empunho.

O tiro desferido pela espingarda de João quase o acertou, mas como vaso ruim não quebra fácil, ele se livrou do disparo fatal ao mesmo tempo que atirou, acertando três tiros na cabeça de João da Onça. Atirado ao chão estava o corpo do bravo caçador de onça. Agora Pedro Valente estava mais soberano que nunca. Não existia homem na região que tivesse coragem para enfrentá-lo. Sua fama foi se alastrando pelo sertão baiano, acabando por chegar ao conhecimento do Coronel Matogrosso que enviou dez de seus soldados da força para dar cabo do Pedro Valente, pois o morto João da Onça era seu primo.

A cabroeira do Coronel Matogrosso adentrou em Santa Brígida arrotando valentia, este fato chegou ao conhecimento de Pedro Valente. Pedro era valente, mais não era burro. Enquanto a cabroeira descansava na caatinga, rasteiro e silencioso feito serpente fora eliminando um por um. Quando os cabra deu por falta de seis dos seus comparsas desconfiaram que algo estranho estivesse acontecendo. Não tiveram muito tempo para descobrir, Pedro Valente apareceu em sua frente...

 – Muito bem cabras, o homem que procuram esta bem aqui pronto pra morrer –  dizia enquanto atirava com os dois revólveres calibre 38. Os quatros indivíduos restantes da tropa do Coronel não pôde fazer muito, mesmo por quer não tiveram tempo para reagir, morreram sem sequer disparar um único tiro em direção a Pedro. Contudo, mesmo estado livre daqueles dez jagunços, ele sabia que viriam mais e mais até que dessem cabo dele.

Então Pedro decidiu ir embora dali, foi para Quixadamubim no Ceará e lá viveu tranqüilo por um longo período de vinte anos. Pedro Valente não queria mais saber de matar ninguém, a sua fama de matador ficou lá pro sertão da Bahia, em Quixadamubim Pedro era apenas um cidadão como outro qualquer até ressurgir a sombra dos Firmino.

Ana Margarida Firmino, a única filha de João Firmino estava em seu encalço. Ela foi informada pelo Coronel Matogrosso sobre o destino tomado por Pedro. Como se diz: “Mato tem olho e parede tem ouvidos”. Ela passou então a fazer pressão psicológica enviando bilhetes ameaçadores.

Em um deles, ameaçava contar para todos na cidade quem realmente era Pedro Soares Cavalcante e dizia que após o delatar iria matá-lo. Pedro Valente não tinha medo de ser morto por Ana, mas não queria que ela falasse acerca de seu passado.

Desejava realmente esquecer-se do matador que um dia veio a ser. Ao se deparar frente a frente com Ana Margarida Firmino, o Pedro pensava apenas em entrar num acordo, porém não teve o tempo necessário para fazer a proposta. Ana sacou de sua bolsa, um revolver de cano curto e descarregando todos os seis tiros, atingiu Pedro na cabeça e no peito. Ela finalmente conseguiu o que homem algum jamais havia conseguido; matar o Pedro Valente, o matador mais destemido do alto sertão nordestino.
Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 20/12/2017
Reeditado em 20/12/2017
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