O Conto da Megera
Nem todos as pessoas apreciam apostas. Nem sempre os que vencem são afortunados. Alguns creem no destino como investidor de acasos. Os que corrompem o jogo tentam manipular a própria sorte. Até hoje apenas uma apostadora conseguiu, enfim, enganar a morte.
Por razões diversas, as quais não me convém mencionar, a amizade da vida com a morte nunca fora bem compreendida pela humanidade, ou pelo menos, bem contada – eis a motivação de minha intervenção poética.
A vida e a morte são eternas crianças. Cheias de querer. Repletas pela animosidade desta insaciável atenção que os adultos não lhe dão. São tantos afazeres inúteis desses colecionadores de coisa nenhuma. Amantes unilaterais, fieis monogâmicos das paixões efêmeras.
No início de tudo, a vida e a morte decidiram brincar de pique esconde. Como é de praxe a vida começou a contagem, 1...2...3...4...5...Não demorou muito para que o tempo se transformasse no seu principal dilema. Isso porque, ninguém sabe qual será o último número, mas uma coisa é certa: a vida é determinada a encontrar a morte.
É curioso observar o comportamento dos fanáticos. A torcida não quer a vitória morte, no entanto, tão pouco fazem pela vida. Deem a palavra aos ilusionistas e logo se tornaram espectadores do fim. Os que tentam copiar a vida, contam os dias para que os dias passem. Estes ainda não compreenderam a metáfora. A vida está brincando de pique esconde, mas os contadores não parecem estar se divertido tanto, então, qual a graça?
Naturalmente, meu caro leitor, estará se perguntando o que fazia a morte durante a contagem da vida e onde ela teria se escondido. Sinto decepcionar as suas expectativas. A morte não fazia absolutamente nada, porque não estava viva. Assim são o que perdem o seu propósito.
Peço que me desculpe por estranhar a sua surpresa, mas...não é por este motivo que tanto temes ser como a morte. Aliás, a morte sequer é alguma coisa, porque o que não existe não é Ser. Os que tentam copiar a vida, contam os dias para que os dias passem. Estes ainda não compreenderam a metáfora.
Ah! É chegada a hora. Com a rouquidão de um silêncio e a ansiedade do por vir a vida exclamou:
– Lá vou eu! E mais uma vez a morte estava li, no mesmo lugar onde sempre estivera. Uma situação bastante deprimente e que aborreceria qualquer criança com a outra que não sabe brincar.
- Estou cansada de contar e esperar que simplesmente te escondas de mim. Faço o melhor que posso e sempre que me viro a procura-la, observo que todas as coisas mudaram, menos você.
- Não é nenhum segredo. Os que me procuram sempre me encontrarão, retrucou a morte.
- Também não é justo! Ninguém casa com o propósito do divórcio ou chega com o propósito da partida.
- Vida você é uma escolha que muitos não fazem e sabes muito bem que não eu faço absolutamente nada. É você quem decide a hora de parar a contagem. Assim, também são os perdem o seu propósito.
A morte tinha razão e novamente vem você a falar-me, como um narrador oculto, de irrefreável curiosidade. Naturalmente, meu caro leitor, estará se perguntando: então, como explicar as fatalidades? As vezes em que a vida se distraiu, perdeu a voz ou adormeceu? Todos sabem. Depois que o jogo termina, está encerrado.
O que talvez você não saiba é que houve um tempo em que vida parou de procurar a morte e o jogo mudou de controle...
- A partir de hoje é você quem fará a contagem!
- E se eu não quiser mais brincar? O que eu ganharei com isso?!
- O que você sempre leva. Mas, desta vez, se ganhar o prêmio reinará para sempre.
Sim, nem todos as pessoas apreciam apostas. Nem sempre os que vencem são afortunados. Todos sabem. A morte tem pressa e é determinada a encontrar a Vida. O que talvez você não saiba é que houve um tempo em que vida parou de procurar a morte e o jogo mudou de controle.
- 1...2...lá vou eu!
Assim que a morte virou as costas, uma visão muito semelhante ao seu passado e a sua memória viera à tona. Todas as coisas haviam mudado e a vida ainda estava ali, onde sempre estivera. Ocorre, porém, que Ela, a vida, havia se multiplicado. Estava por todos os lugares. Era o milagre a que todos chamam de Amor.
A morte enlouqueceu na mesma hora. A rainha do caos, a dama da noite, a megera indomável nunca estivera no controle das coisas. A vida tinha razão. Os fanáticos não torciam pela vitória morte.
- O que será de mim daqui para frente? Estaria a morte condenada a viver eternamente?
Do princípio ao fim, nenhum segredo. É que alguns creem no destino como investidor de acasos. Os que corrompem o jogo tentam manipular a própria sorte. Até hoje apenas uma apostadora conseguiu, enfim, enganar a morte. Qual é a sua história de vida?
Autor: Augusto Felipe de Gouvêa e Silva.
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