Corda Bamba
-Uma vela, por favor. E também um fósforo.
-Não seria melhor levar dois? A gente nunca sabe...
-Apenas um, uma única chance deve bastar.
-Bom...aqui está. Boa noite.
-Agradeço. Boa noite.
E lá seguiu a menina pela corda bamba, ora desequilibrando pelo sopro do medo, ora saltando em busca da liberdade. A verdade é que as quedas e os voos aconteciam, mas são preciosos momentos que não valem a pena serem mostrados, contados, descritos ou narrados, pois, provavelmente, perderiam a grande essência que trazem a quem os viveu. A dor da queda e o brilho do voo, a profundidade desses instantes não caberiam nas palavras do presente caminhante, ao menos não de forma inteira. Melhor contar sobre a luta em se manter na corda bamba. Na qual em alguns intantes se perdia e em outros se encontrava. Ora parecia que a batalha se transformava em dança, ora era como se a menina se tornasse uma borboleta presa em uma espécie de teia. Sobre pés, braços, face, cabelos compondo a guerreira menina que respirava o sol, as estrelas, as dúvidas, os anseios. Ora corcunda com as asas dobradas por um peso feito de medo e cansaço, ora rodopiando leve como a brisa, sonhando o voo. - E nesse momento, passava carregando uma vela e um fósforo, uma chance, acendendo o presente.