Começou o dia

Aquela brisa mal cheirosa batia em meu rosto, a escuridão da madrugada, um silêncio quase que absoluto, os motores dos poucos carros que transitavam quebravam a monotonia, da janela do ônibus caindo em pedaços, eu assistia um retrato empalamado de uma cidade em ruína, ruas sujas e vazias, prédios pichados, um mar de pensamentos e uma sombra fétida por todo o trajeto em direção ao meu trabalho.

Todos os bancos eram ocupados pelas mais diferentes tipos de pessoas, cada um se mantinha em seu quadrado, alguns sorriam para o celular como doidos varridos, outros com suas caras fechadas e feias olhavam para o nada, assim como eu. Havia uma criança ao meu lado com sua adorável mãe, eu pude ouvir a conversa agradável que elas tinham, a mãe com toda paciência e carinho, explicava tudo ao seu filho querido que perguntava tudo. Na minha frente um casal de idosos proseava bem baixinho olhando nos olhos, com gestos de respeito, deviam ter por volta de uns 80 anos, era lindo de se ver.

Olhando novamente para a janela, agora não mais gris a paisagem, em uma matiz um pouco relaxante, vejo pessoas com suas mochilas andando para lá e para cá, os postes ainda acesos e carros com suas buzinas irritantes alarmam que já é dia. O agito começa, no trânsito motoristas xingam os motociclistas, pivetes roubam a bolsa da senhorinha, bêbados depredam o ponto de ônibus e um mal humor exala dentro da condução em que eu me encontro, olho para trás de onde vem uma discussão de dois jovens, uma mulher e um homem brigam, lavando suas roupas encardidas para quem quisesse ver...

Penso que o dia começou mesmo, as coisas voltam a ser como antes...

Me levanto e faço sinal...

Felippe Lacerda
Enviado por Felippe Lacerda em 12/12/2017
Reeditado em 26/02/2018
Código do texto: T6196725
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.