A PAIXÃO DE CRISTO
A PAIXÃO DE CRISTO
Sentaram-se, então, em uma mesa preparada para dois naquela humilde taverna.
- Perdão, nem tive tempo de apresentar... Meu nome é Jesus.
- Prazer, Jesus. Obrigado pelo que fez lá fora. É tão raro encontrar gente assim hoje em dia...
- Sim, sim. Quanta agressividade dessa gente, não? Imagine. Pedras. Hmmpf. Tudo por causa de algum problema que você teve com seu trabalho. Aliás, o que faz mesmo?
- Hmmm. Meio difícil de explicar. Mas vamos deixar os problemas de trabalho no trabalho, não?
- Sim, sim. Aceita um pouco de vinho?
- Claro.
Jesus retira as flores do vaso enfeitando a mesa. Coloca a mão espalmada sobre ele e, ato contínuo, serve os dois copos com o líquido rubro.
- E agora. O que faço com essas flores?
- Bem...jogue-as, não sei. – A mulher cita, desdenhosamente.
- Seria um desperdício...
Ele oferece uma das rosas a ela.
- Se parece contigo. Delicada como ela. Salvei-a das pedras na mão, portanto essa salvarei da pedra do chão.
- Quanta ternura. – A mulher ruboriza com a oferta.
- Essa outra fica aqui. – Coloca a rosa ao lado da veste, entre o ombro e o peito. Depois de um movimento de mãos, como se invocados do nada, um trio de homens aproxima-se da mesa. Com roupas exóticas, de costuras, cortes e filigranas douradas que jamais havia se visto por ali, começam a tocar doces lamentos acompanhados por instrumentos de madeira e corda também desconhecidos.
- Concede-me o prazer dessa dança? – Estendendo a mão com graça, se dirige a mulher.
- ....claro. – Responde.
Como se inspirada pelo divino, a mulher ergue-se da cadeira e coloca a rosa em sua boca. Acompanha a melodia lúbrica com desenvoltura. Os dois pareiam nos passos como dois dançarinos de muita data.
A porta da taverna, repentinamente, se rompe. Um homem de vestes comuns, acompanhado de soldados, se aproxima e para a dança com um beijo no rosto de Jesus. Prontamente os soldados o levam pelo braço. Apreensiva com a situação, a mulher desesperada se dirige a Jesus.
- Para onde o levarão? Eu te verei de novo?
Olhando por sobre o ombro enquanto era carregado, responde.
- Sim. E eu lhe garanto que estarás comigo no paraíso.
O homem é levado para fora, para o cair da noite.