Conto:

L I L I

l - A BRUXINHA DE PANO




Ela, Lili, me disse assim:
- Professora, enquanto você costura meu enxoval, já que gosta tanto de contar histórias, eu lhe conto a minha, para você depois escrever e publicar.
- Pode começar, respondi. Caso seja interessante publico mesmo. Então ela começou:
- Nascí na Fazenda Primavera, Zona da Mata, situada numa cidade tão bonita que lhe deram o nome de Viçosa.
Lembro de uma casa grande, frente a casa de meu Tio, dos pés de Pitomba, papai voltando do trabalho - da plantação de abacaxi - de cavalo; e de mamãe na velha máquina de costurar - máquina Singer -e de uns pedacinhos de tábuas que eu brincava do alpendre da nossa casa enquanto ela proseava com Titia Antonieta que costurava junto a ela. Dava pra ver e sentir como eram amigas!
- Olha , continuou ela, encho os olhos de lágrimas quando me lembro do dia que andei num caçoar de um burrinho enquanto pelas fendas eu enxergava as paisagens, as flores multicoloridas das plantas silvestres passando por mim. Ora as florzinhas amarelas que hoje sei que se chamam de "Garrida", ora Verbenas rosa choque, algumas Celidonias, Onze Horas de todas as cores e enfim... outras, cujos nomes desconheço. Até mandacarus floridos. E o plantio de algodão! Era lindo de se ver! Não era atoa que se chamava Primavera, aquele lugar!
Outra coisa que dava pra ver em meu passeio das fendinhas do caçoar, eram as mulheres lavando roupa nas pedras do rio. Algumas cantavam outras conversavam alto coisas de filhos e de maridos ou sobre o cansaço da manipulação do Catitu na casa de farinha.
Nesse passeio desconfortável mas fascinante, lembro que eu não soltava uma bonequinha de pano que eu tinha cujo nome pouco romântico era "Bruxa"! Mamãe dizia: - vai pegar tua bruxa menina! E assim ela foi batizada.
Bruxa, minha bonequinha de pano, foi confeccionada por minha Tia Antonieta, esposa de meu tio Tio Adeildo. Vez ou outra ela fazia uma roupinha diferente pra ela me deixando fascinada. Ela fez pra mim e minha prima Telma, que ria quando eu a chamava pra brincar porque ela me achava muito tola. Vez ou outra ela pacientemente arrumava minhas bonecas, as panelinhas de barro e minhas "talbinhas".

 

Tânia De Oliveira
Tânia de Oliveira
Enviado por Tânia de Oliveira em 02/12/2017
Reeditado em 04/12/2017
Código do texto: T6188511
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