AULA DE HISTÓRIA: ANOS LOUCOS

Ah, o mundo nos anos 20!...

Guerra encerrada em 1918 (I GM), efeitos foram prosperidade para os norte-americanos, totalmente arrasada a  economia para os europeus ocidentais e sucessivas crises políticas no Brasil.  A França iria se recuperar somente em 1936;  em Portugal, divergências partidárias, terrorismo, golpes militares e descontentamento com a política anticlerical;  na Espanha, violenta agitação popular, alto custo de vida, ditadura militar ‘ainda’ branda em 1923;  na Itália, prejuízos infinitos subindo a US$ 15 bilhões, altíssimo custo de vida, desemprego (soldados retornando à vida civil) e greves - defesa de um regime autoritário, nas mãos de um só homem (voltar ao fascismo de 1914?);  a Alemanha, humilhada porque derrotada, por força do Tratado de Versalhes (em Paris, 1919) perdera um sexto de seu território, perdeu parte da produção de carvão-ferro-zinco, a frota mercante e armamentos, intimada a pagar US$ 33 bilhões, como dívida da guerra de que fora responsável - a situação caótica favoreceu novos movimentos políticos socialistas, em clima de incertezas. Desordens e frustrações, o jovem Hitler não conseguiu o poder naquele momento, em 1923, foi preso e começou a planejar “a supremacia do povo alemão”.  (Alemanha se repetirá perdida em 1945, II G M.) ----- Ao contrário, nos States, uma era de grande prosperidade, até o final da década de 20 - franca industrialização e poupança, através de bônus do governo - soldados voltaram para casa, elevação do número de casamentos-nascimentos;  linhas de montagem foram aceleradas, fabricação em larga escala, facilidade das compras a crédito e aumento do consumo (casas e utensílios domésticos).  Febre industrial, maior volume de empregos.  Correntes migratórias para as grandes cidades  industrializadas - junto, vem o jazz negro, novo ritmo divulgado pelo rádio e pela vitrola, incorporação à cultura popular norte-americana.  Pais dançando ao som do jazz, vivendo os Roaring Twenties (Felizes anos vinte), imortalizados por Scott Fitzgerald escritor.  Clima de euforia - vida, uma grande festa.  Política conservadora dos republicanos não simpatizava com imigrantes europeus, do Sul e do Leste;  orientais e meridionais, maioria católicos e judeus, frequentemente associados a sindicatos, movimentos sociais e anarquia (italianos).  Repressão e isolacionismo, imigrantes perseguidos, inclusive pela Ku Klux Klan, de 4.500.000 adeptos.  Com a Lei Seca, surge o crime organizado. ----- No geral, mudanças em hábitos e padrões de comportamento no mundo inteiro, reflexo direto do terrível conflito.  - Instabilidade da paz!  Para historiadores, os “anos loucos”, período sem par na história da humanidade.  No som, jazz (ouvir, dançar), Charleston; na tela, Rodolfo Valentino, Ramon Navarro e Douglas Fairbanks...  Fim do espartilho feminino  (décadas depois, fogueira de sutiãs) e dos chignons (cabelos longos presos em coque).  Revistas de atualidades mostrando na capa mulheres com as pernas de fora.  Mulher indo à luta fora de casa.  Centenário do Brasil soberano, sem grilhões lusos.  Revolução das artes plásticas e da literatura:   Semana de Arte Moderna, São Paulo, 1922.  No Rio, nov./1923, fundação da companhia telefônica nacional (longo caminho até novas tecnologias em 1960).  O que mais de bom poderia acontecer?  Mulheres em processo de emancipação, maior participação na sociedade, saias subiram, decotes aumentaram... cabelos mais curtos, maquilagem num ousado carmim’... suspiros pelos galãs do cinema.  De repente, cabruuum!  (Onomatopeia de HQ:  trovão.)  Outubro/1929:  o crack da Bolsa de Nova York.  Início da Grande Depressão, sérias conseqüências econômicas-políticas-sociais no planeta inteiro.  Produção industrial norte-americana reduzida a 46%, safras inteiras destruídas na desesperada tentativa de baixar preços, 9.096 bancos quebraram, queda de 87% nas cotações das ações;  entre 1929 e 1932, o ano mais crítico, 26,4 milhões de desempregados em todo o mundo.  No Brasil, com o fim da I GM, corrosão da economia.  Em 1918, déficit orçamentário de 1 milhão de contos de réis, gravíssima situação social, greves operárias, descontentamento da classe média - a velha geração política desaparecera, a nova ainda não tivera tempo de se afirmar.  Embora havendo a tradicional “política do café com leite” (revezamento entre presidentes paulistas/mineiros), surgiu o paraibano Epitácio Pessoa enfrentando a oposição até o  fim de seu governo em nov./1922, quando se comemorou o Centenário da Independência, muitas festividades, no Rio a Exposição Internacional, construção de stands de 50 países.  No discurso de abertura, Epitácio apresentou um balanço de nosso progresso em cem anos e de 3 a 30 milhões de habitantes, extensão das linhas férreas, cerca de 60.000 km de linhas telefônicas (desde 1880), 1.500km de carris urbanos, cerca de 1 milhão de objetos de correspondência postal, cerca de 50.000km de linhas telegráficas.  Capitais modernas e culturais - exposições de Anita Malfatti e Di Cavalcanti, Semana de Arte Moderna.  Ideia de Paulo e Marinette Prado, fazendeiros de café e Di Cavalcanti, pintor - “assustar essa burguesia que cochila na glória de seus lucros”;  o comitê organizador contou com “escol financeiro e mundano da sociedade paulistana”.  Em 13, 15 e 17 de fevereiro, público reunido no Teatro Municipal de São Paulo escutou músicas, poemas e textos de vários escritores, no saguão havia quadros modernos e esculturas - críticas ferozes e negativas, sob algum tempo.  Longo período de sítio no governo autoritário de Artur Bernardes, menor poder das oligarquias rurais e intervenções no Rio de Janeiro e na Bahia.  Fora da politicagem, das brigas de “compadres’, a sociedade preferia o aspecto mundano - primeiro concurso de Miss Brasil, 1931, promoção da Revista da Semana e do jornal  A Noite, 319 candidatas;  no Rio, ruas-bondes-salões invadidos por trajes de melindrosas e almofadinhas -  conservadores escandalizados.   Mulheres caçando lugares na sociedade, como Anaíde Beiriz, poetisa e líder feminista, Tarsila do Amaral, pintora, Anésia Pinheiro Machado, a primeira aviadora brasileira (transporte de passageiros e voos acrobáticos) e Olívia Penteado, recebendo intelectuais para o chá semanal (comum na Europa).  Ópera-teatro-cinematógrafo, ‘victrola’ com pesados discos de 78 rotações, rádio (introdutor Roquete Pinto, 1923).  Longos colares, chapéu cloche (redondo com fita ou enfeite), melindrosas, Confeitaria Colombo, chá das cinco.  Nos salões, almofadinhas e melindrosas dançavam maxixe, tango, fox-trot e charleston.  Carnaval carioca atraía multidões - corsos dos cais a Urca, máscaras, bailes chiques no Salão High Life, Baile dos Artistas no Teatro Phenix. ----- Nosso cabruuum!  Fim da vida alegre! ----- Efeitos da Grande Depressão, queda vertiginosa dos preços do café nos principais mercados compradores.  Deterioração rápida do quadro político, insatisfação geral, fim da República Velha - novo governo irá resolver o grande desafio econômico:  nos armazéns, montanhas de sacas de café invendável?  Quando e como?

FONTE:

“O mundo nos anos 20” - TELERJ - Rio, revista SINO AZUL, ano 56, n.404, 1983.

F  I  M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 02/12/2017
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