OS CASTELOS ENCANTADOS.

Alguns “Castelos”, há milênios construídos, ainda conservam seu alicerce e arquitetura de pé. Foram construídos com bases sólidas para que ficassem isentos de todo e qualquer possível abalo. Afinal, os ataques dos inimigos aconteciam com frequência e vinham de todos os lados e direções. Todavia, suas paredes fortes, protetoras e resistentes mantinham-se firmes. Sofriam algumas avarias porém, rapidamente, eram reerguidas. E a vida seguia.

Havia festas, crianças correndo, brincando e sendo felizes. Havia flores, jardins, pomares, e bichinhos de estimação. Tão boa era a vida nesse castelo dos sonhos. No entanto, o tempo, implacável que é, continuava exercendo sobre o Castelo a força inexorável dos anos. E novamente, rachaduras apareciam nas paredes, juntamente, com o mofo e a palidez das cores. E, mais uma vez, reparos eram providenciados. E o Castelo ganhava novos tons, mantendo-se bem apresentado.

Contudo, as crianças, alegria do Castelo, foram crescendo e conquistando seu próprio espaço. As flores nos jardins já não apresentavam tamanho viço e as paredes, novamente, cobriam-se de cinza. Os enormes corredores começavam a ganhar ares mórbidos e assustadores e barulhos estranhos eram ouvidos no avançar das noites. Os moradores que agora resumiam-se a apenas um casal resistiam às tempestades e intempéries da vida. E diziam não às mudanças, afinal, haviam criado raízes naquele espaço. Cada tijolo, cada pilar, carregava uma história pra contar. E seguiam.

Houve vezes, em que ventou tão forte, destelhando o pesado telhado que a resistência do casal em continuar no Castelo foi profundamente abalada e questionada. Porém, filhos e família não concordaram com decisão tão radical dos pais de abandonarem o Castelo. Pois, apesar da indisfarçável insatisfação estampada no rosto dos moradores, o abandono do Castelo seria uma dolorosa decisão para toda a família, mesmo que a maioria já não morasse lá.

E, segue o casal em sua fortaleza. Arrastam correntes, carregam histórias e se negam a sair do “Castelo Mal Assombrado”, em respeito ao desejo geral da família. Aguardam por algum abalo sísmico, forte o bastante para, finalmente, derrubar o Castelo, que embora construído com amor e carinho já não atende às reais necessidades de seus moradores...

Elenice Bastos.