E O MENINO NASCEU
Em um dia vinte e quatro de Dezembro, um casal errante saI à procura de um abrigo, afinal a jovem estava a parir seu primeiro rebento. Ela uma jovem mulher, exímia rendeira na renda dos sete pares, de nome Maria José. Ele um jovem senhor com certa diferença de idade entre ambos, pescador das bandas de Santo Antônio de Lisboa, onde em sua plena juventude a viuvez bate em sua porta deixando o mesmo com alguns rebentos em tenra idade. Conhecido como Zé Maria do Sambaqui, era muito comentado entre as redondezas por ser um verdadeiro pé de valsa, porém de grande responsabilidade pelos afazeres domésticos e profissionais. O casal conhece-se nos folguedos vespertinos de finais de semana, onde a bela jovem ao vê-lo pela vez primeira apaixona-se perdidamente pelo Zé Maria do sambaqui. Dançam a tarde inteira e nos próximos domingos continuam a encontrar-se a bailar. O tempo passa e resolvem que é hora de tomarem uma decisão a cerca de um futuro juntos. Convidam seus amigos próximos e alguns familiares a informa-los de que a partir daquela data iriam dividir o mesmo teto. Fizeram uma festa simples condizente com suas simplicidades e rumaram ao seu humilde lar no pé do morro entre cachoeiras, árvores frondosas e muitos pássaros a cantarolar nas manhãs primaveris. O tempo passa e à jovem é anunciada uma gravidez inesperada o que a princípio deixam o casal perplexo, pois não estava em seus planos esta gestação. Toda a atenção e preocupação volta-se para esta nova realidade, no entanto o casal aceita com resignação, pois confiavam num Ser Superior que habitava em seus corações. Maria José acelera em seus trabalhos na renda de bilro, pois muita encomenda tinha das senhoras da cidade, por outro lado Zé Maria passa a dedicar mais tempo na pesca com o intuito de aumentar o orçamento doméstico. No dia 24 de dezembro, Maria José acorda com dores avisando ao Zé Maria estar chegando a hora. Seu esposo a coloca no carro de boi com destino a Vila para o serviço de parto, no entanto o menino ansioso que estava para ver a luz, não permite chegarem ao destino forçando-os a procurarem um abrigo para o seu despertar a vida. Entre tantas negativas, encontram um engenho de farinha pelas bandas do sertão do Ribeirão. Era uma noite enluarada e no céu riscado havia uma estrela que brilhava em todas as direções despertando a atenção da vizinhança. Ecoa um choro melodioso, os bois iniciam um mugido sem parar, as cabras saltitantes se aproximam do local, os cavalos a trotear, o galo a cantar, a coruja a piar, foi um reboliço só. O povo sai às ruas com a cantoria do terno de reis anunciando a chegada do menino. Um trio de “forasteiros” se aproxima do rebento oferecendo como presentes, uma moringa de barro, um samburá e uma muda de garapuvu. O casal na sua humildade e fé apresenta o menino para o universo: Oh Grande Arquiteto do Universo, eis aqui tua Criação. Semente gerada em nosso ventre por nós fecundada, manifesto de nosso amor. Chamar-se-á Josué, o Salvador de todos os tempos. Comprometemo-nos perante a ti guia-lo a uma vida digna, de ética, amor incondicional, aprender com ele, crescermos com ele, sorrirmos com ele, chorarmos com ele, bailarmos com ele, caminharmos com ele lado a lado, pois é isto que desejas de nós todos, filhos teus. A partir do acontecido o povo nunca mais esqueceu a data de 25 de dezembro, passando a comemorá-la a cada ano este dia tão especial para a comunidade universal.
Valmir Vilmar de Sousa (Veve) 28/11/17