Praga Capitalista.
Foi primeira vez que retornei a minha cidade natal após 10 anos morando em outro estado. Era um sábado de tarde azul e ensolarada, que me trazia uma sensação nostálgica da infância. Hoje, sinto a cidade meio viva, meio morta, barulhenta e silenciosa, toda aquela gente inquietante, todos marionetes das suas rotinas e do sistema. Antes tão calma e alegre, ou era ao menos o que a minha inocência me fazia exergar. Os camelôs ora simpáticos ora inconvenientes. Nos bares, os velhos inebriados de saudades e bebidas baratas. As esquinas e seus desempregados e espiões, onde a noite era a vez das prostitutas que se vendiam para os rapazes, os mal amados, e os bem casados. Os comércios agora inundavam as ruas, e o fedor podre da burguesia se impregnava ali.
Em meio aos grandes prédios recém nascidos, sobrevivia a antiga e pequena igreja católica e o som calculado dos sinos que anunciam o início da missa, além dos batizados, as mortes e as quaresmas. Aquele som atroz dos sinos, meu enterno tormento. Entretanto, a decepção maior foi tentar avistar o jardim da pracinha através da janela do carro, e só conseguir olhar para uma fábrica e a fumaça preta deturpando um pedaço do céu. Minha alma chorou. Aquele jardim foi o meu refúgio quando criança, não havia encanto maior, as flores eram as únicas que eu podia confiar meu segredos, seus perfumes era como embalo de colo, e suas belezas afagavam meus olhos. Eu brincava de ser Deus, elas eram os anjos, e aquilo era meu paraíso. Maldita praga capitalista! Que arrancou da minha singela cidade todos os seus encantos naturais e colocou no lugar , cenários incovenientes e doloroso aos olhos de quem um dia viveu lá.