O cheque

Joaquim conteve um pouco a ansiedade e abriu o portão; sabia que agora iria dar certo. Mas sabia também que precisava de sorte. A dos grandes vendedores. Não que seu carro fosse uma lata velha, com defeitos, mas que já havia dois meses que o colocara a venda e nada.

O homem tinha um mistério nos olhos claros e passou a falar de cabeça erguida, todavia um tanto apressado. Não se lhe podia falar que não fosse bom de negócios, pois não demonstrava muita importância embora se soubesse que estava interessado na compra do carro.

Joaquim o interrogou:

— Não acha o preço bom?

Com toda a certeza ele o achou, tanto que foi logo pegando o talão de cheques no bolso e perguntando por uma caneta.

Joaquim ficou animado, e nenhuma dúvida passou em seus olhos. Não há como se colocar o aspecto do rosto dele; era feliz, pelo sorriso que deu. E não disse nada enquanto o homem lhe entregou o papel assinado; ao que segurou um pouco antes de guardá-lo num bolso.

— Até logo e obrigado!, disse Joaquim despedindo-se do comprador.

Foi a última vez que viu o carro; feliz quem o tem agora. Ora, no mesmo dia, Joaquim foi ao banco depositar o cheque pré-datado e veio a saber os dois dias depois que não tinha fundos. Concordou com um cunhado que trabalhava em cartório que era caso de inadimplência, mas este alegou que Joaquim tinha sido muito ingênuo. Que homem não verifica a quem está vendendo seu carrinho, que de mais a menos, servia-lhe para ir ao trabalho? Joaquim opinou de cabeça que sim – não disse que era pessoa religiosa e por isso confiava nos outros, mas o cunhado adivinhou, acrescentando que Joaquim era honesto e muito bom e assim iria ficar no prejuízo, já que não sabia se ganharia a causa, caso procurasse um advogado.

Agora, nem carro, nem cheque. E de manhã foi ao trabalho a pé, que chegou a pensar na infeliz ideia que teve de vender seu carrinho Volkswagen Gol de 2006. Mas Deus é pai de todos; compraria outro!

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 26/11/2017
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