Portas e portas...

Parei frente ao portão. As chaves já faziam festa em minhas ansiosas mãos. O abro, o cansaço empurra-me corredor a dentro. Prontamente outra chave encontra serventia, gira duas vezes num gesto quase autômato. Aberta a porta... A casa vazia acolhe-me, com ares de mãe a receber o filho após longa ausência.

Deixei, o cansaço do lado de fora, a mala em cima do tapete e percorri cada cantinho, como quem diz: - Estou de volta!

Esboço um sorriso, esse é meu sossego, a saudade era tamanha...

Na varanda da cozinha, violetas, flores de seda e minha linda orquídea, ainda vicejantes, parecem sedentas. Cantarolando uma canção imaginária, apanho um pouco de água e vou socorre-las; afinal, alegram meus olhos todas as manhãs... Abro os braços e as enormes janelas. Uma brisa refrescante adentra, renova o ar. Seu hálito fresco, faz com que as folhas tremam de alegria ao receber o gostoso carinho. Fecho os olhos, por um momento permaneço assim, recebendo a refrescante carícia a revolver o calor e meus cabelos. Um tremor interrompe o momento... É ela, a vontade de tomar banho a despertar-me. Não resisto, a atendo prontamente, seguindo primeiramente rumo ao quarto. Abro as portas do armário buscando algo leve para vestir, porém...Aí me perco...

Tuas roupas junto as minhas, desperta a solidão que agora se faz minha companhia. É má, nunca está só, a saudade a ela se une, castiga -me ainda mais. Uma lágrima teima em deslizar, apanho uma camiseta tua... Como refrigério entrego-me à lembrança. Leva-me em uma deliciosa viagem. Nela, posso sentir teu calor, teu cheiro... Ouvir teu sorriso, apreciar teu beijo certeiro... Olho em volta, posso vê-lo de braços abertos pro aconchego, sinto tuas vontades; sempre vencem meu sono, meu cansaço, quando entrego-me inteira...

Fecho a porta do armário, despeço-me da lembrança... Olho o relógio, o tempo me mostra, passa ligeiro. Em breve, você estará de volta. Cantarolando sigo para o banheiro, fecho a porta...

Ema Machado