escarrada
escarrada
“Deixa esse menino, Marina”, Gritava minha vó , protegendo a gente da nossa mãe. Quando ficava com vontade de fumar, ela tinha tanta raiva. Tantos dos menino como da vida dela. Batia e se aliviava. Sentia um pouco viva. Quando ela não tinha cigarro a gente já ficava preparado porque a qualquer hora a porrada ia comer. E não tinha cigarro que dava. Comprava um carteira e fumava tudo num dia. Numa gulodiça só. Acendia um no outro. Cigarro e café. O cheirão entrava no quarto . As meninas ficava tossindo. Ela não estava nem ai. Só os escarros de meu pai na parede que fazia ela parar. “Já disse que ai não é lugar de escarrar seu porco” Falava isso num grito que enchia a gente de medo. Esquecia um pouco o cigarro na mesa.
Meu pai sempre fazia isso. Onde ele estava dava uma escarrada. Em toda casa tinha mancha na parede. Minha mãe limpava, mas quando demorava, dava umas manchas esverdeada que não saia mais. Era meu pai escarrando e minha mãe limpando. Ele nunca parava. Ela ficava mais doida ainda. E falava que ia embora, que não aguentava mais aquilo. Voltava com um paninho molhado de sabão. Passava com uma cara de nojo quase vazando cuspe pelos cantos da boca. A gente como já conhecia escondia um ou dois cigarros proteger a gente mais tarde. Porque a esfomeação dela , deixava a gente no risco de mais tarde levar um xingo ou uma surra.
Julinha Gritava.” Mãe, achei esse caído na cama”. “Traz aqui minha filha, que anjo meu Deus. devo ter deixado cair quando arrumava os lençóis”. Sentava na cozinha, um copão de café na mão, fumacinha, acendia o cigarro no tição de lenha e dava uma baforada longo e profunda. Seu olhos voltava pra dentro, como quisesse ver as voltas da fumaça. Ali dava pra ver que estava bem. Tudo no seu lugar. Dali a pouco aquela porta de paraíso era rompida. Voltava tudo ao que era. E pra piorar e causar mais medo, meu pai soltava mais catarrada. Ela nem pensava, soltava um palavrão, dava um grito e dizia de novo que logo ia embora. E a gente
Fazia igual bicho tudo corria pro quintal.
A coisa que a agente mais queria era ver nossa mãe feliz. Era uma brabeza danada. Toda sem paciência. Era assustador quando passava a cantar alto e feliz músicas alegres. Parecia que estava doida. A gente tava acostumado mesmo era com brabeza dela, no dia que ela cantava parecia que não era ela. Aquilo dava um medo. Nem parecia gente. Era mais um fantasma que pegou seu lugar. Um fantasma desses que canta.
Eu ia la pra fora com os meninos porque mais tarde a taca ia comer forte na nossa costela. Nem sei porque a gente apanhava. Só sei que a falta de cigarro ajudava e muito. E tinha ainda as escarradas de meu pai que nunca aprendia e ela gritando. Fazia melequeira só pra deixar ela doida.
Uma coisa triste que lembro foi no dia que ela mandou a gente procurar bituca na rua. Andamos quase as ruas tudo perto da praça, juntamos mais de cem bitucas. Chegou lá, ela esvaziou cada uma num papel. Aquele monte de fumo, mistura de cru e queimado. Fez vários cigarros grande. Ela fumava com café, como sempre fazia. Mas estava não feliz. Estava envergonha e humilhada de estar fazendo aquilo perto da gente. Naquele desespero em fumar. Naquele dia vi que minha mãe queria ser importante. Queria ter dinheiro pra comprar cigarro limpo. Cigarro que não passou pela boca de toda gente da cidade. Fumava e chorava. O copão de café esfriou. A gente ficou olhando de longe aquele mãe que a gente não conhecia direito. Nem parecia ela, com aquela tristeza tão diferente da raiva dos outros dias. Nossa mãe parecia uma menina de retrato chorando.
Nesse dia que vi minha mãe triste eu fiquei feliz, porque mesmo de longe ela parecia gente. Não tava gritando e nem falando que ia embora. Dali a adiante fez o jantar. Comemos todo mundo junto na mesa. coisa que a gente não fazia há muito tempo. A noite ela riu. E fumou de novo o cigarrão de bituca. A gente gostou.
Fiquei até com vontade que ela ficasse sempre assim, triste de chorar. Mesmo que seja com cigarro da rua. De la da cozinha a gente escutava a escarrada de meu pai. Minha mãe nem ligou. Depois daquele dia nunca mais meu pai escarrou na parede