cacho de bananas
Foi uma grande surpresa quando meu tio Isaque ganhou na rifa um cacho de banana da terra. De repente ele entrou com a coisa toda na cabeça. Ninguém acreditava, nunca em nossa família alguém ganhou alguma coisa que não fosse em troca de trabalho ou de algum favor.
Naquela semana comemos muita banana frita e cozida. Minha mãe que andava cabisbaixa com as travessuras de meu pai ficou radiante, todos lá em casa ficaram alegres e os vizinhos meio abatidos com a história, e não foi pelas bananas, foi pelo modo como aquele acontecimento deixaram todos contentes. Seu Roberio da venda disse que era exagero, felicidade por banana era uma coisa triste, porque todos os quintais da cidade de uma bananeira.
Meu tio que andava triste porque não conseguia emprego desde que voltou de são paulo não falava de outra coisa, seus olhos marejam, e sua fala embargava, era bonito de ver o seu entusiasmo. Era a primeira vitória que ele teve desde sua volta. "Quase que escolhi outro nome, mas pensei em Gorete de Jaú, me veio assim, na mente mesmo, o rosto dela, então troquei, pedi pra seu Otávio mudar e foi uma sorte dana.
A gente não cansava de escutar aquele momento mágico da escolha do nome que deu na rifa". Gorete, que na minha cabeça de menino era um nome muito feio, quem daria um nome desses a própria filha, um nome que começa já na garganta, um nome que já veio um rasgo na pronúncia. Gorete. Teve até uma mulher que me chamou na rua perguntando se eu era parente de Isaque Ferreira, o homem que ganhou na rifa o cacho de banana. Eu me senti importante dele ser meu tio. Eu que andava chateado com ele, que diferente de quando chegou de São Paulo não conversava mais comigo. Era como se quando acostumamos com uma pessoa ela passa a existir menos.
Foi então que chamaram a filha de Jau pra comer um pouco da banana frita, afinal, sem ela na cabeça do meu tio, nada disso teria acontecido, era justo que a moça experimentasse. Marcaram para o sábado, nesse dia, lembro bem que estava sol e todos se preparavam para ir passa a tarde no rio. A moça veio devidamente acompanhada do pai. Que não parava de perguntar porque meu tio andava com a filha dele na cabeça. "Para com isso seu Jaú, é porque é menina da cidade e todos pensam nas pessoas que moram aqui", falou meu pai sem que o velho entendesse muito. Depois completou que só veio porque a menina ficou feliz com a história. E nesse momento percebi que a alegria se estendeu pra outras casas, que uma coisa boa não para de fazer coisa boa.
Como a banana já estava quase acabando só deu um pouco pra cada um, comemos com faria e café. E foi então que a menina não parava de olhar pro meu tio, que nem de longe fazia questão de esconder o seu interesse e o pai apressava pra ir pra casa, que ela tinha que ajudar a mãe. O velho não era bobo, sabia como funciona esse mundo e que nenhum homem fica pensando numa menina tão bonita se não tive algum interesse.
Meu tio já era bem velho pra ela, ficou até estranho, deu uma certa vergonha, porque a menina era tão novinha que os peitinhos nem nasceram direito e ficava envergonhada igual gente do mato, desconcertada do pai está ali vendo o modo que sentia.
Na beira do rio, todos conversavam muito, a menina não veio, o velho pai dela não deixou. Meu tio sentou numa pedra, não conversava com ninguém e tinha os pensamentos perdidos em algum lugar. Fiquei imaginando como tudo é estranho, o tio ficou igual menino, com um semblante leve e misterioso.
No final do dia quando chegamos em casa, ele disse que ia voltar pra São Paulo porque a vida que ele havia deixado aqui não existia mais e que precisava de um emprego pra sobreviver e que não achava certo dar despesas pros parentes. O que ele não sabia, mas talvez pressentisse é que meu pai não estava nada feliz com ele lá em casa. A maior vitória do meu tio não foi ganhar as bananas, foi ele perceber que precisava fazer algo da vida dele e ele fez, foi embora e de novo voltamos ao normal, sem o ânimo daquela semana.