conto de duas vezes
Enquanto trabalha no conserto da rua, os homens da prefeitura olhavam pra minha irma e comentavam alguma coisa, que não deveriam ser coisas que se falam na igreja. Gorinha era a mais bonita da rua, ou a mais exibida, usava saia curta e bem nessas horas inventava de pular corda, mostrava a calcinha entrando na buda, outras vezes aparecia os cabelinhos que já tinha nascido na xoxota. Gostava de provocar, eoa era uma esfomeada de atenção dos homens.
As outras meninas que não tinha essa coragem, vivia com raiva de Gorinha, que arrastava pra si todo o interesse. Era a preferida tantos dos homens feitos quanto dos rapazotes que não saia da frente de casa.
Ela dizia que não namorava ninguém, sequer um beijo na boca tinha dado. Ela era mentirosa, eu não me importava, mas as vezes dava vergonha, porque viviam me chamando de cunhado, cunhadão, esses besteiras que homens falam pra aparecer pra outros homens.
Falavam tanto dela pra mim, que era gostosa, e outras coisas mais cabeludas, que tomado de curiosidade, fiquei um tempão olhando ela tomar banho pelo vitro que dava para o corredor do quintal. Eu subia na lage e ficava olhando. Era como se ela soubesse, ficava esfregando sabão nas partes, demorado, bem demorado mesmo, com muita espuma. Só parei de fazer isso, quando minha mãe me pegou numa dessas situações e me deu uns tapas na cara.
Gorinha por causa desse jeito dela despachado, era a mais alegre, vivia rindo de tudo. Meu pai não falava nada, diferente dos outros pais da rua, que não deixavam as meninas quietas. Tinha umas meninas que nem pareciam que já estavam na hora de namorar de tão controlada era, dava até umas aparência de boba.
Eu pouco me importava com essas coisas. Era como meu pai, mas de outro jeito, Ele era diferente, realmente não via como ela era dada com os da rua, inclusive com o amigo dele, Marinho que depois que Gorinha cresceu os peitos vem muito mais vezes em casa e fica de conversa com ela, que se insinua como se quisesse pular no colo dele.
Um dia ela chegou chorando em casa, se trancafiou no quarto, ficou o dia todo la dentro de porta fechada. À noite minha mãe fez ela vim pra mesa de jantar, a cara estava amassada como se tivesse levado uma bordoada, os olhos vermelhos de chorar, então minha mãe contou pra todos que estava ali que ela pegou barriga, disse assim, pegou barriga como se fosse um doença contagiosa e emendou em seguida: por causa disso ela ia ter que passar uns tempos longe de casa.
Gorinha foi mandada pra casa da minha avó na fazenda do Riacho Grande, a mais longe, que ninguém queria ir, pois lá não tinha nada, só aquela terra seca e umas dez vacas tristes que nem sei como não morria de tédio. Um lugar de puro desconsolo e desprotegido na vida.
Meu pai falou que ela só voltaria quando as coisa tivessem resolvidas. Aquilo não mexeu comigo quando aconteceu, foi só quando fiquei grande que tive dó de Gorinha que de tão bonita que era, teve um filho tão feio, que ninguém gostava lá em casa, o menino parecia que não comia, era coro e osso, e uns olhos esbugalhados que se a gente olhasse demais começava dar uma estranhesa em nosso pensamento. Até ela rejeitava o moleque que vivia sujinho se arrastando pelo chão.
E mesmo com tudo, ela não mudou foi nada, depois que o menino nasceu continuou pulando corda na rua com a bunda aparecendo, os homens olhando e alguns até mandavam bilhetinho querendo encontro. Agora que todos sabiam que não era mais virgem, todos queriam uma lasquinha como o sortudo que foi o primeiro, que ela nunca contou quem era.
Minha mae, a unica que se abateu com esse caso, dizia que Gorinha ficou mais safada e que não sabia quem ela puxou. Meu pai, coitado, vivia em outro mundo, só falava em ficar rico pela loteria, fazia jogo a semana toda, perguntava números pra gente, mas nunca tinha dinheiro pra jogar mais de um. A unica pessoa que tinha dinheiro lá em casa era minha mãe, que recebeu do meu avo varias casas que ela alugava e ninguém sabia onde punha o dinheiro.
Então aconteceu o que ninguém esperava que acontecesse, de novo Gorinha apareceu chorando em casa, ficou o dia todo trancada, meu pai nesse dia não saiu, ficou na sala de jantar avaliando centenas de bilhetes na mesa. Antes de servir o jantar minha mãe que quando ficava brava todos perdiam o chão, foi até o quarto dela e deus uns murros forte e chamou ela pra jantar. Ela sentou de mal vontade, o filho dela, que quando ria ficava até bonitinho, se aproximou como se quisesse dizer alguma coisa, mas quem disse foi minha mãe.Falou que ela pegou barriga de novo e que mais uma vez precisava viajar pra casa da minha avó. Meu pai olhou pra gente, todos sentados pensando na falta de Juizo de Gorinha e perguntou : será que a lotérica ainda está aberta?