O pinto
Vislumbrar a natureza é uma insólita e instigante viagem.
Principalmente pela paciência ou “bobeira” em fazê-lo em tais circunstâncias.
Dia destes, em uma inesperada experiência que sem demora, a contento, venho descrever:
O nascimento de um pinto. Isso mesmo. Aquele vertebrado, bípede, ovíparo, homeotérmico, que de lindo à insignificante, passa a ter importância nestas linhas.
Desde crianças ouvimos , sem resposta cientificamente correta - “quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”
Prefiro pensar na delicada e divina obra do Criador que é o nascimento. Do ovo, ao pinto.
Vi quebrar um buraquinho insignificante aguardando curiosamente o próximo.
Uma quebra, imensuráveis minutos depois, alegrou-me os pensamentos. Aí vem o milagre da vida.
Não procurem saber como cheguei até este momento mágico. De onde viera o ovo? Como sobreviveu o pinto às inúmeras tempestades e mudanças climáticas que a vida pode lhe ter proporcionado. Não importa. Nem eu sei.
O ovo e um ser de penachos eis que aparecerá a seguir. Fraudado o ato e dada a devida importância, aconteceu.
“Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa fã filosofia.” Filosófico demais? Talvez.
Voltemos à cena do nascimento do pinto. No terceiro pique, a casca que de ressequida, e seguindo o processo, já se partira em trilhas maiores, formando um mapa desencontrado. Começava agora a deixar à vista a vida que se pronuncia.
Passo a passo, fui aviltando o pinto que, desengonçadamente, tentava abrir caminho para a vida de fora de sua casca.
Como num parto, a abertura se alargava para dar liberdade ao filhote. Ele surge incólume, apesar do líquido escroto, a cabeça se prenunciando, os pequenos ossos se retorcendo, frágeis até formar-se inteiro o espectro animal. Feio, como o patinho de Andersen. Mas venceu a incrível batalha. O ciclo da vida. O ovo, o pinto. A galinha. O ovo. O pinto...