HILARIEDADE EM DOSE DUPLA

EPISÓDIO (antigo) COM A MULHER, EM CASA  -  Na época    /o indivíduo já se formou:  pedra vermelha como símbolo!!!/,    três anos de luta em que o ‘coitado sofredor’ trabalhava numa empresa metalúrgica sugadora, escrevia e publicava em sites literários, cursava faculdade de Direito noturna e ELA tentava corrigir o que o cara redigia.  Ih, eterna luta!  Quanto a CONTOS, CRÔNICAS e POEMAS, de fato a mulher interferia, textos ao alcance dela, frequentemente criando um outro título que justificava “mais chamativo”, acrescentando palavras na fala das personagens, modificando certas ações, animava com HQ ou pesquisava alguma coisa para nota do autor ao pé do texto.  Ih, que trabalheira!  Às vezes, ia um pouco (na verdade, muito...) além disso, quase (ou além?) co-autora..  Brigavam, discutiam  na vertical, paz na horizontal.  ELE, estrada bem cedo para o trabalho, e logo após lavar a louça a ‘coitada sofredora partia da cozinha para a intelectualidade.  Nos trabalhos jurídicos, apenas fiscalizava a gramática - ELE pedia, ELA anotava num caderninho à parte, mas não corrigia diretamente na telinha!!!  “O inferno são os outros”, disse SARTRE.  Inferno é também ser a professora dedicada para um marido ingrato que nunca elogiava (nem as colaborações... nem o pudim cremosíssimo:  “...onze gemas, um ovo inteiro).  Aí, ELA dizia:  “Corrija!”  Aí, ELE dizia:  “Depois...”  E não corrigia nada.  Azar o dele, ainda acadêmico.  Era 15 de outubro.  Desde a semana anterior ELA pedira uma orquídea lilás e bombons de cereja ao licor.  Marido esqueceu, disse que as pessoas “comuns” (quem?) é que dão estes presentes ‘tolos’ (?), escreveu uma carta que a comoveu em mão dupla - agradecimentos e elogios por “...três felizes anos que...” - redigiu em casa, na presença dela, ‘enviou’ como e-mail, avisou para ler (ELA imprime tudo), computador único...  Sim, único.  Da casa de solteira, trouxera uma caixa de papelão onde, em sacos de arquivo, organiza receitas culinárias, categorias em ordem alfabética.  Recorta de jornal e revista, exclui duplicidades, digita o que é novo.  A brigalhada é sempre motivada pelo corrigir, geralmente não corrigir.  Nem flor nem guloseima, ficou muito zangada.  Novos mútuos resmungos na verticalidade.  Bom, o cara ficou um pouquinho irritado e nervoso, mas é todo inflexível-sarcástico-debochado, intelectualizou frases lindas para dizer na hora do carinho, não saía nada que prestasse e, para posterior espanto do próprio, escreveu na tela sem ter falado.  (Como escreveu sem perceber?  Virou robô?  E nem sabe onde escreveu?)  “Apesar das nossas constantes diferenças, gosto muito de você.”  Mulher leu, continuou calada, não reagiu, ELE improvisou novas bobajadas, frases tolas com a palavra “diferença”, desistiu.  Da cozinha, onde ELE foi preparar um chá,  escutou o ruído da impressora.  Está com defeito e às vezes mistura textos, repete a impressão automaticamente, enorme gasto de papel e tinta.  Deitados, as diferenças se tornam aplicativos complementares entre homem e mulher.  Pois é, primavera, dias mais claros, passou a mão no trabalho universitário, jogou no carro, saiu cansado-atrasado para a empresa, longe, estrada, visão de um bosque com ciprestes, zona industrial, depois uma passada rápida no sindicato ao final da tarde, não viria em casa no intervalo;  direto para a faculdade.  ELA acordou com tantos afazeres que se perdeu no pensamento, nem lembrava mais o que grampeara à noite ou folhas que deixara soltas ou que - duplicadas - jogara de lado para rascunho...

EPISÓDIO (da mesma ocasião) COM O PROFESSOR, NA FACULDADE  -  Chegou atrasado e todos os alunos já haviam entregue os trabalhos, ELE foi o último, o mestre recebeu e colocou no alto da pilha.  “Como é que EU não percebi antes?” - pensou.  Poderia ter feito xerox...   O papel era cor-de-rosa que popularmente chamam “cor de mulherzinha”, trabalho digitado e impresso em 3 páginas.  O assunto era homofobia e a turma de 50 alunos foi dividida pelo professor, independente da opinião pessoal, metade permissiva à conduta e a outra metade preconceituosa.  Coube a ELE não criar quizumba, ou seja, não rejeitar ou perseguir, “cada um na sua”, como se diz.  Se não se envolve, pelo menos respeita.  Dias depois, trabalho devolvido.  Se o professor leu com cuidado, se fez fotocópia, não falou.  Aquela frase do mini discurso improvisado.........  Rubrica em cima e embaixo de cada página.  Na frente, NOTA 10 COM LOUVOR.  E a mesmíssima palavra com ponto de exclamação que a mulher usa em cada texto que ELE publica:  PARABÉNS!  Na parte inferior, na letra cursiva do professor:  EU TAMBÉM!!!!!!!!! ----- Conteúdo das folhas ‘rosinha’?  Bolos, bolinhos, cup cakes - de chocolate, de aipim, com farinha de soja........  Doces judaicos e árabes - com nozes e mel, principalmente...  Ensinamentos úteis - como tirar parasita de roseiras, como desidratar e dourar uma flor, casa perfumadíssima.........  T a m b é m   exatamente o quê?

F  I  M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 28/10/2017
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