CASAMENTOS PERFEITOS, MISTURAS...
CAFÉ COM LEITE - A política do ‘café-com-leite’ foi, entre 1894 e 1930, um troca-troca, revezamento nacional de conveniências políticas: um presidente paulista, um mineiro, outro paulista, outro mineiro......... não chegou a ‘ad infinitum’ porque um gaúcho acabou com essa festa! São Paulo, produtor de café, e Minas Gerais, produtor de leite, eram os Estados mais ricos e populosos do Brasil na República Velha. O café não faz mal e o ingrediente cafeína, excitante do sistema nervoso, consta até de certos remédios e tratamentos. O leite aumenta a saciedade, diminui a fome e em conseqüência ajuda a emagrecer. Versão de que a mistura seria de origem holandesa. Numa palestra sobre nutrição, a ‘moça do microfone’ contra-indicava essa mistura, explicando que o café retira o cálcio e outras propriedades fundamentais do leite. Ouvi, não acatei, mas ao final aplaudi como todo mundo. Aí, cantina do clube, EU já estava lá quando ELA improvisou um conversa (útil? inútil?), botou a mão no meu braço, perguntou o que EU estava bebendo - ora bolas, tinha visto através do copo transparente - e pediu à garçonete igualzinho: café com leite... Bom, “acontece que (como cantou Caymmi em outra ocasião) EU sou paulista”, meu Estado não pode parar... “acontece que ELA não é”, falou ter nascido em Ouro Preto, cidade histórica barroca... Ainda inseguros e um tanto tímidos, conversamos sobre Tomás e Marília, porém depois......... Bom, pessoal, sou discreto: o segundo “capítulo” não contarei.
CHÁ COM TORRADAS - Bebida preparada através de folhas, flores e raízes em infusão de água quente. De erva tradicional milenar, passou a bebida social na China durante a Dinastia Tang. Os portugueses chegaram ao Japão em 1543 e foram os primeiros europeus a conhecerem o chá; logo, as classes sociais mais ricas da França e dos Países Baixos passaram a importar folhas e a bebida se tornou também popular. Na Inglaterra, o consumo cresceu a partir do final do século XVII, quando surgiu em Londres o elegante “Five Tea” (chá das cinco). O chá aumenta o estado de alerta, pois contém teofilina e cafeína. Quanto ás torradas, não há diferença calórica entre o pão e estas, apenas a perda de água cria agradável sabor crocante, com efeito mais leve no organismo, dando a impressão psicológica de termos comido menos. Agora, se colocarmos na torrada quentinha um pouco de manteiga, uma geleiazinha de morango ou um pedacinho de peito de peru defumado, onomatopéia hahaha (ou rsrsrsrsrs) ‘era uma vez’ o regime ou a dieta...
FEIJÃO COM ARROZ - Sim, prato típico do cardápio brasileiro, da rica mesa à marmita do trabalhador. Existe a versão de que os portugueses tenham trazido o arroz do Oriente e nossos índios já comiam feijão. Bom, sabe como é, se a feijoada de fato tem origem na senzala (a velha estória - feijoada de feijão preto é comida de Pai Ogum, orixá abridor de caminhos: mínimo de 7 salgados), a tendência foi a doce e natural miscigenação e... o arroz sobre o feijão preto (ou ao contrário?) fez desde o início uma mistura perfeita. Ao mesmo tempo, a combinação rotineira destes ingredientes faz gerar a expressão ‘feijão com arroz’ tendo o significado depreciativo de ‘rotina-todo-dia-a-mesma-coisa’. Ah, mas que é delícia, é!!!
GOIABADA COM QUEIJO, o ‘popular-clássico’ (existe esse dúbio conceito?), isto é, ROMEU E JULIETA - Conserva de frutas já vinha dos romanos, não sei se distrairia Nero em sua ânsia incendiária.. A goiabada é um doce mineiro ‘acaipirado’ que surgiu nas fazendas coloniais, substituindo a marmelada européia, saudade na mesa dos colonos portugueses - massa de consistência firme, mistura de goiaba, açúcar e água. Embalagens versáteis, mas na tradição a caixinha retangular de madeira; lata redonda ou embalagem transparente - celofane ou plástico - na fase industrial. O queijo-de-minas é obtido através da mistura de leite com determinados coagulantes, sendo o tipo canastra produzido há mais de 200 anos. Chegou pelos imigrantes na época do Ciclo do Ouro, “primo” distante do queijo português produzido na Serra da Estrela. Desde 2002, Patrimônio Imaterial de Minas Gerais, o ‘queijim’, como é carinhosamente chamado, é o “cara metade” da mais deliciosa mistura tradicional, de fácil acesso a todas as classes sociais, seja na hora do lanche ou sobremesa, que se complementam nos contrastes: ELE, um tanto salgado Romeu, ELA, dulcíssima Julieta. Perfeito equilíbrio de sabores. // Voltando nos séculos a SHAKESPEARE, por que ROMEU e JULIETA como símbolo de casal perfeito? Porque morreram jovens, na estória deles não havia um/uma ex que os enlouquecesse-infernizasse, não houve tempo de traição (ou bate-papo com terceira pessoa via Internet) ou ELE sumir por semanas (“Viajei a trabalho e o rio Tietê transbordou, explodiu com tanta água que até os aviões pararam.........”) ou ELA ter crise de TPM (ou enxaqueca na hora do amor) e ou filhos aborrecentes em constantes crises existenciais, repetindo o ‘affair’ tumultuado de papai-mamãe. Romeu? Não sei se ELE era abstêmio. Julieta? Não sei se ELA gostava de cerveja.
EU & ELA (ou ELA & EU?) - Pelo menos literariamente falando, pode haver “casamento perfeito” entre um CONTISTA-CRONISTA-POETA e uma ‘CORRIGIDORA’ gramatical de textos que brigam cerca de 360 dias em cada ano do calendário (menos no carnaval e nos dias de niver), sob a mistura das expressões afetivas e constantes de “carinho sempre” e “cuide-se”???
NOTA DO AUTOR:
Quem disse que intertextualidade é falta de criatividade??? Moto contínuo. Entre outras versões, WILLIAM (1564/1616) não teria inventado a trama universal do amor entre ROMEU e JULIETA - adaptou-a de um poema inglês, este baseado num texto francês, adaptado de um conto italiano, escrito por LUIGI DA PORTO (1485/1529), escritor e historiador “do-pais-com-feitio-de bota”, e que por sua vez ‘estudara’ textos anteriores. Muitos mitos gregos seduziram SHAKESPEARE, vocês sabiam?
FONTES (parciais):
“A verdade sobre Romeu e Julieta”, crônica de LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO --- “Histórias de amor”, crônica de GERALDO CARNEIRO.
F I M