Antes de o sol surgir com seus tons indefinidos no violáceo horizonte fúlvido e multicor, e ficarem fotografados na retina Jailton já está de pé em sua recôndita várzea. Pronto na sua dignidade para a labuta cotidiana. As suas vaquinhas Laranjinha, Lavandeira, Miudinha e Paturi pareciam entender tudo que o curiboca dizia. Atendiam ao seu chamado, como quem sabe que logo após a sua chegada viria o traçado de Xérem com farelo de trigo, e algodão de caroço em forma de torta. Enquanto ruminavam ansiavam por sentir as mãos do caboclo acaricia-lhe as tetas e extrair-lhes o lácteo líquido.

Naquele ínterim na pocilga, os suínos estavam inquietos, cobrando o seu alimento. No chiqueiro as ovelhas, cabras e carneiros aguardavam a sua vez. A beira do tanque os inócuos alevinos estavam saltitantes sobre ás águas cristalinas, numa clara demonstração que também ansiavam saborear dos petiscos a serem lançados água adentro.

As mãos crespas e calejadas do caboclo amiúde emergiam sôfregas de dentro do saco do farelo de soja para alimentar aos Tambaquis, as Tilápias, e as Traíras. Ao mesmo tempo em que de sua face brotavam córregos de suor respingando quão adocicado quanto à cana, que mesma esmagada só sabe dar doce.

Nisso, no terreiro debaixo das copas de gliricídias e ninhos, o pavão ostentava o resplendor de suas cores de luxo em forma de arco-íris de pluma a amalgamar com as aves que cacarejam ansiosas por degustarem do milho fresquinho, daqueles plantados com as mãos do coração em solo regado pelo orvalho da perseverança.

A beleza estonteante da alvorada mesclava-se com o “belo” do infinito da apológica natureza rústica e pueril do Sertão Sergipano. O galo entoava seu cântico, enquanto o peru entoava “desgola, desgola”. Era chagada à hora do sertanejo montar em sua arrimosa motocicleta, que agora substitui ao cavalo, e seguir rumo ao campo de construção aonde iria construir cisternas para coletar do céu, quando chuvoso, o precioso líquido da vida.

A sua luta oscilava constante dentre as funções de agricultor, e de vaqueiro no principio da alvorada, seja dia ou madrugada, de sol á sol, de lua a lua. Logo ás sete da matina assume o seu segundo ofício, o de pedreiro. Essa função ele a executava ao longo do dia, para logo mais ás cindo da tarde retomar os trabalhos de vaqueiro.

É essa a árdua, mas prazerosa lida diária daquele Jailton trabalhador. Assim que no final do dia, é chegado o crepúsculo e com ele a hora para o merecido repouso. O corpo já cansado, desgastado pelo esforço diário da labuta cotidiana requer aconchego.

Agora vai o atilado caiçara debruçar a sua cabeça em travesseiros de esperança. A mesma esperança que viaja pelos bálsamos do tempo e pousa quando, e aonde ousa pousar. E os frutos de seu árduo trabalho serão colhidos pela ascese contagiante ao sertanejo
 
Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 19/10/2017
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