O bêbado do cemitério
O carnaval de 2014 estava muito violento, o coveiro da cidade, que era o único, estava tendo muito trabalho naqueles dias de folia. Por isso, para adiantar o seu trabalho deixava algumas covas abertas, para evitar acúmulo de serviço. O cemitério era um lugar pouco frequentado pelos moradores, principalmente à noite, dentro não havia iluminação, apenas na parte de fora, próximo à rua. Mas, vez ou outra, alguns casais de adolescentes se aventuravam a entrar no local para namorarem. Pois o portão de entrada sempre ficava aberto.
Carlito era um homem que quando bebia perdia a noção de tudo, era solteiro e viciado em álcool. Bebia todos os dias, praticamente saia de um porre e entrava em outro. O fato é que saia caminhando pela cidade, entrava em qualquer lugar e dormia. Passava semanas sem ir para casa. Além dos mais sofria de alucinações, insônia; até falava de forma clara quando sonhava, era capaz de dialogar por alguns minutos. Pois aconteceu que certa noite sem saber onde estava resolveu entrar no primeiro portão que encontrou, e entrou no cemitério pensando ser uma casa qualquer. Avistou o que parecia várias casinhas e pensou que seria um condomínio para anões. Na quarta casinha percebeu que estava com a porta aberta, bateu palmas, ninguém respondeu, falou para si mesmo:
— Acho que tod... mun... des...des...te condomínio estão na fo..ric, ric...lia.
Entrou na casinha, achou engraçada por não ter nada dentro. Mas deitou e dormiu.
Minutos depois chegou um casal de namorados:
— Vamos, aqui ficaremos mais à vontade, ninguém vem aqui, pois não tem coragem — Disse o rapaz.
— Estou com um pouco de medo, mas é mais seguro aqui dentro do que em qualquer lugar lá fora, ao menos aqui todos já estão mortos — disse a moça com uma voz charmosa.
Começaram a se beijar, escutava-se longe os beijos, os gemidos que ambos davam. Resolveram ficar bem ao lado do túmulo onde estava Carlito dormindo. Não dava para vê-lo, pois estava em um lugar bem escuro do túmulo. Depois de alguns minutos estavam despidos e começaram a fazer amor.
Os gritos de prazer do casal acordaram Carlito, mas por estar em estado avançado de embriagues, começou a delirar, imaginava ser o porteiro do inferno:
— Não, você não pode entrar. Você pode. Vocês não.
Os jovens assustados pararam com a relação e ficaram anestesiados ouvindo a voz que saia de dentro do túmulo. A moça deu um grito de medo e começou a chorar, o mesmo foi abafado pelo jovem que lhe tapou a boca.
— Não adianta gritar, nem chorar, já disse aqui você não entra — Disse a voz de dentro do túmulo.
— Quem estar aí? — perguntou o jovem.
— Sou o porteiro do inferno. Qual o seu nome?
— Que palhaçada é essa — Disse a jovem com voz trêmula.
— Olha o respeito, se não, te mando direto para o caldeirão.
A essa altura os jovens tentavam, trêmulos, se vestirem. Voltou a falar a voz:
— Ei, vocês estão aqui na minha lista, e pelo que consta aqui acabaram de sair de uma festa...
Antes de terminar a frase, os jovens saíram desesperados correndo para qualquer direção dentro do cemitério. De repente a jovem deu um grito desesperado:
— Socorrooooooo!
— Cadê você? — Perguntou o jovem que ia logo a frente dela, virando-se para trás.
— Pelo amor de deus me tira daqui.
Ele voltou rapidamente. Ela estava dentro de uma das covas abertas para as emergências. Ajudou-a a sair da cova. Já fora do cemitério, sentiram um cheiro esquisito. Foram para debaixo de um poste de luz, trocaram uns olhares um ao outro e se deram conta o que era: A moça tinha borrado as calças; o moço, molhado a bermuda.