O NORMAL
Acordou bem cedo e se levantou. Como sempre: com o pé direito. Vivia sozinho, e na sua solidão rotineira nada viu de diferente. Então, saiu e tomou o ônibus para trabalhar, depois de ter tomado café sem açúcar na padaria do Divininho. Na rua, na padaria e no ônibus começou a estranhar as pessoas. Eram os mesmos lugares de todo dia, mas as pessoas com quem cruzava estavam alteradas. Pareciam outras, embora fosses as mesmas de sempre. Todos se comportavam fora da trivialidade cotidiana. Até mesmo o motorista do ônibus. Mas parece que ninguém ligava para isso. Apesar do perigo que corriam.
Chegou ao escritório e viu que todos seus colegas, aproximadamente quinze funcionários, se comportavam de modo muito estranho: pareciam esquizofrênicos. Sim, todos viraram esquizofrênicos. Ou algo parecido com o que ele entendia como tal. Fez vista grossa, aguentou o dia. Trabalhou até dezoito horas. No fim do dia, deu um suspiro e pensou naquilo tudo antes de ir embora. Percebeu assim que a partir desse momento teria que aprender a viver em um mundo em que só ele era normal, a não ser que encontrasse e reconhecesse alguém assim dissonante como era ele. Mas rápido descobriria que ninguém seria normal assim como ele. Se acaso fosse não admitiria por instinto de sobrevivência Enfim, talvez também ele devesse simular anormalidade.
Pois só ele sabia que ele era o último normal.