Cleonice apareceu na porta principal, levantou seu vestido vermelho longo até a altura dos joelhos, sapatos prateados, cabelos louros mesclados com os brancos que davam um certo charme, primeiro degrau deu uma paradinha e lançou os olhos para o salão antes de começar a descer a escada de mármore; Cleonice lançou lhe um olhar de estranho para Ana e Daniel, todos perceberam.
O salão todo enfeitado com cores da bandeira do grêmio recreativo, amarelo, rosa e vermelho, a corporação uma vez por ano se reuniam. No ano anterior foi na cidade Flor de Campo localizado no Estado da Amazônia, na fazenda de Cleonice.
O que ela está fazendo aqui? – Disse Ana para seu marido Daniel.
Não sei, ela não respondeu mais minhas ligações durante o ano, pensei que estava com raiva nós depois que ela discutiu com meu pai Sr. ª Francisco de 70 anos, viúvo, mas não deixa passar uma; na última vez que nos vimos, a briga foi feia, meu pai não tem trava na língua e falou besteiras.
Também, onde já se viu falar que estar casada com aquele marido era melhor não ter ninguém, mencionou que ele poderia nem prestar na cama. Ela virou um bicho, dizendo que o que ele tinha que ver com a vida dela?
Saiu tapas e tivemos que separa-los.Nunca mais falou com a gente! Agora ela descendo as escadas, seus olhos brilhavam.... Ela está vindo em nossa direção, com sorriso largo que pegava de uma orelha a outra mostrando os dentes, .... Será que ela esqueceu? – Disse Ana.
Cleonice abaixou levemente o corpo ao descer o último degrau...Abriu[a1] os braços como se fosse uma gaivota para levantar voo, seu quadril balançava dentro do vestido, colado aparecendo os contornos da calcinha.
Queridos, quanto tempo? – Falou com a voz fina e aguda, parecia um violino desafinado que o som passava pelos ouvidos feito uma navalha, - Irritante!
Olhem, viajei mais seis mil quilômetros e trouxe um presente para vocês...Direto da minha fazenda. Esperem um pouco vou buscar.
Ana e Daniel ficaram com olhar espantoso, e ao mesmo temo eufóricos, um presente? – o que ela ia nos dar? A sensação era que viria uma joia, pela forma que ela pintou e valorizou o presente...A expectativa no ar, todas as pessoas ficaram curiosas para ver.…. Lá vem ela...tome, é sua, é especial.
Quando olharam o presente.... Um misto de espanto! Misturado com ar de agradecimento forçado esboçado por sorrisos amarelos. Oh! Muito obrigado.
Daniel pegou o presente, embrulhado de papel de pão, todo amassado e rasgado, dentro um saquinho, dentro uma galinha morta, despenada, esbranquiçada com hematomas roxos com agua dentro. Nós vamos faze-la em casa. Daqui a uma semana (tempo que duraria o evento no grêmio). Poe na geladeira – disse Cleonice, com sorriso maquiavélico. Na mente deles estava parendo uma bruxa.
Daniel e Ana subiram para o quarto:
Quem em sã consciencia daria um presente desse? - disse ele.
O que vamos fazer com isso? – Disse Ana, eu não vou fazer essa galinha que viajou milhares de quilômetros de carro, congelou, descongelou, uma dez vezes.
Deve estar macumbada – disse Daniel, dizem que ela mexe com coisas estranhas, e ela estava com raiva da gente, lembra?
Vamos jogar fora, disse ele.
Não, não vamos não, deixe ai na geladeira do quarto, se jogarmos alguém pode ver.
No dia seguinte, passaram por uma lixeira no pátio do grêmio, é aqui, vamos pegar...
Quando iam jogar, quem aparece do outro lado olhando pra eles?
Cleonice – Oi, como vocês estão? – Vamos passear de jangada? – O Carlos está indeciso, a Mariana está querendo ir...Não Cleonice, nós vamos descansar um pouco, a noite tenho um discurso, preciso prepara-lo.... Deixa para outra vez.
Eles voltaram para o quarto.... Com os nervos a flor da pele, parece que para despachar essa galinha está difícil. Vamos deixar para quando subirmos à São Paulo.
A galinha lá na geladeira, toda vez que se abria a porta...O pescoço estava pendurado de bico calado.
Passaram-se uma semana, hora de ir embora, graças a Deus disse Daniel. Se despediram de todos, e quando se despediu da Cleonice, o abraço parecia duas espadas afiadas e geladas. Em superficial, daquele jeito quando alguém aperta a mão de alguém, como se estivesse com a mão leve e escorregadia. Friamente.
A galinha foi colocada no banco de trás, para facilitar .
Daniel, sabe? – estou com dó de jogar fora a galinha, tanta gente passando fome por ai...Eu estava pensando nisso – disse Daniel.
E se for de macumba?
Deixa disso, se for foi pra nós, quem pegar não vai querer saber a procedência. Panela, minha filha, e pumba, barriga, nós que estamos cismados...Subindo a serra, o silêncio.
A gasolina esta acabando, vou parar no próximo posto. Disse ele.
Há dez quilômetros tinha um, maracava a placa na estrada...
Boa tarde jovem,
Quem? eu?
Por que não? – você não trabalha aqui?
Sim, trabalho, na borracharia.
Voce quer ganhar uma galinha?
O rapaz, parou, pensou...De repente pensou em outra coisa.
Galinha, meu filho, para cozinhar, assar...Ganhamos uma mas somos vegetarianos, você quer? - nem esperou pela resposta,
Enquanto isso, o frentista deu as chaves do carro, Daniel deu o dinheiro, e foi no carro...Abrindo a porta traseira, pegou a galinha...Até que enfim, vamos ficar livres dela.
Entregou para o rapaz, nem olhou para saber se iria agradecer, faz o que você quiser com ela. No passo apressado foi até o carro, nem olhou para trás, deu partida...Adeus galinha.Meu pai me paga.Paga o que? - A galinha?