Viemos te Internar

Família: Bom filho, pensamos muito antes de fazer isto. Não duvide de que isto esteja nos machucando. Sim, estamos feridos irremediavelmente por isto. Mas sabemos ser o melhor pra você!

Filho: Você não podem fazer isto comigo! Eu disse umas besteiras, mas nada a ver. Não é motivo para me internar, pois sei que encontrarei no mundo o meu lugar.

Família:Meu filho, temos medo. Por nós, por você e pelas pessoas ao seu redor. Suas palavras...as coisas que escreve. Você se tornou um estranho para nós, embora ainda continuamos a amá-lo.

Filho: Pai! Mãe! Não pode fazer isto. Estou desesperado, não direi mais aquelas coisas. Prometo não sonhar com extraterrestres e nem escrever textos sobre demônios dando conselhos aos pobres mortais.

Filho: Não falarei mais aquelas coisas sobre Cristo e nem defenderei perigosas ideias de esquerda. O general tem razão...

Família:Não é só isto meu filho! Tememos o mal que este mundo pode lhe fazer. Você é um pouco bobo, ainda que tenha algumas intuições. O mundo é um lugar perigoso para você.

Só queríamos que arrumasse um emprego decente. Constituísse família e envelhecesse dignamente como nós. Mas não meu filho! Seu sorriso bobo, teus sonhos inúteis que ninguém entende. Precisa se tratar antes que seja tarde!

Enfermeiros: viemos buscar o Carlos Eduardo!

Ele se desesperou ao ver aqueles homens de branco. A ambulância estava lá. Era inegável. A coisa era real! O filho pediu pelo amor de Deus para que não fosse internado mais uma vez naquele mês.

As borboletas púrpuras saíram todas da floresta do pequeno jardim do sua casa. Um extraterrestre vestido com um macacão dourado lhe apareceu e lhe cantou a seguinte canção:

"Seu silêncio me soa como mecânica quântica

E voos paralelos enchem de bites nossos ouvidos"

Os enfermeiros lhe deram um sedativo. Deu o último sorriso, talvez de despedida. Mas sentiu raiva de seus pais. Sua louca consciência ainda lhe fazia perguntas, afinal por que seus pais o deixaram ser levado assim.

Seu cérebro precisava de descanso, de remédios e choques. Aquelas ideias perturbadoras, aquelas palavras sem sentido, aquelas maneiras estranhas. Tudo isto precisa ser liberado da mente de Carlos Eduardo ou todo o dinheiro gasto por sua família de nada serviria.

Meses internado. Ganhou a liberdade. Já não sonhava, nem delirava. Parecia uma pessoa normal com todo um futuro brilhante pela frente. Sua família tinha posses e tudo o que aconteceu seria uma mera lembrança já superada.

Carlos Eduardo, se viu com um jaleco. Seria médico doutor respeitado.

Mas viu aquele maldito ET com macacão dourado. O alienígena o apresentou o viaduto, lhe deu medidas certas da altura e a certeza do fim.

Carlos Eduardo se transformou num lindo pássaro. Sua plumagem parecia daquelas aves imperiais, que ornam os palácios dos reis da Ásia. Eram as asas como de um condor, imponente. Mas para ele importava que suas enormes asas o levariam para longe e para qualquer lugar que quisesse.

Queria ser uma ave destas que viajam pelo Universo. Para ele a Via Láctea seria o bastante, talvez umas voltinhas em Andrômeda - sempre evitando os malditos buracos negros, onde da ultima vez perdeu sua amiga ave coruja em um arriscado sobrevoo sobre o mesmo.

Então Carlos Eduardo se lançou em voo solo, como ave que era e pronto para ganhar o espaço sideral...

Um conhecido: Carlos Eduardo, não!

Oooooo...

Carlos Eduardo agora era notícia nos principais jornais do país. Seu voo louco lhe rendeu manchetes e destaque no Jornal Nacional. Era um menino de classe média, com problemas mentais, que havia se atirado de um viaduto.

"O que levaria alguém tão jovem com todo um futuro pela frente a uma atitude tão desesperadora?" Disse o jornalista em tom grave e intrigado.

Talvez fosse o maldito Et de macacão dourado. Talvez ele quisesse realmente viajar como uma ave imperial pelos confins do universo. Nunca vamos saber ao certo. Maldito sábado!

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 30/09/2017
Reeditado em 30/09/2017
Código do texto: T6129550
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