O CONHAQUE
Se vê louco para fugir da condição desumana que a sociedade interage consigo. Não é possível viver sob tanta barbárie. Se vê perdido toda vez que lhe forçam a mendigar um mísero salário e ter que agradecer pelas moedas. Não se encontra em lugar algum, pois tudo para ele é tão mesquinho que a fachada do ser é demonstrar uma felicidade forçada pela lógica do fim de semana. Ao buscar por alguns pães percebe a dura realidade que todos aqueles funcionário perpassam em função daquilo que não lhes agrada. O físico desgastado de cada um demonstra quão duro é se aperceber algemado a um mísero salário. E pensar que ao gastar seus últimos trocados no mercado da amargura se vê sem saída, pois também busca por uma vaga de desespero. Jack se sentia isolado, impotente e amargurado diante triste realidade que o espera.
--- bom dia senhor CPF na nota?
--- Bom dia, não precisa.
Esta frase inocente lhe causava arrepios, pois já teve que repeti-la em seu emprego anterior quando de sua passagem como caixa de uma livrarias. O seu emprego anterior o desgastou de tal forma que a desilusão de que algo poderia melhorar jamais o abandonou. De tempos em tempos escrevia para si mesmo de modo a canalizar a sua desilusão para algo que lhe seria útil. Agora estava ele de novo batendo cabeça nas portas de grandes empresas que lhe recusavam por puro sarcasmo. E pensar que sua tortura pelo dinheiro é tamanha a ponto de desperdiça-lo em bar da esquina. De que adiante correr o risco de uma vida pobre de expectativa sem ter com quem compartilhar o seu desgosto.
--- gostaria de mais alguma coisa senhor?
--- não, obrigado.
A sua fala mecânica de sempre é torturante. Não consegue reunir forças para fugir do seu destino fadado ao fracasso. De toda relação que persevera entre ele e os demais a sua volta não foge à regra. Ao chegar nos bares nunca encontra algo diferente se não o mesmo ciclo de conversas cansadas de pessoas procurando a felicidade. Ele nunca acreditou na felicidade e talvez por isso seja tão amargurado. Mas não dispensa as gargalhadas que finge por não entender as piadas sem graça. Jamais teve tanta sorte e azar ao mesmo tempo por se encontrar na rua da amargura. Em seu desencontro é possível encontrá-lo, mas para isso precisa das pessoas certas e dos ambientes que lhe proporcionam isto. Ademais nos últimos tempos teve conversas interessantes ao ponto de querer sucumbir a derrota que lhe esfregam ao rosto. De volta à casa não consegue fugir das situações que lhe consomem o íntimo.
--- olá professor um conhaque?
--- olá, por favor.