Todo Sonho

Estava na cama. O lado esquerdo intocado, contínuo, organizado como sempre deixava. Luíza não gostava de acordar só. Não que algum dia tenha tido a oportunidade de saber o que é acordar junto todos os dias.

Bocejou um sono, bocejou um sonho:

A cama se encontrava revirada, uma confusão sem termo. Uma orgia de objetos desorganizados. Lençol na porta, travesseiro no abajur, calcinha, cueca, camisinha, lubrificante, soutien. Tudo espalhado, jogado pelos cantos. Seu corpo estava dolorido, apesar de saciado. Ana Luíza estava úmida, como se uma onda tivesse lambido seu corpo por dentro e por fora. Estava espumando prazer, derramava doce de sua vagina, seus poros consumiam tudo, sua pele sentia tudo. Era um estado de atenção redobrado, de percepção aguçada.

Não sabia o que acontecera, sentia-se bem. Olhou-se no espelho. Tinha mordidas entranhadas na sua pele. Uma epiderme marcada, arranhada, fudida. Seu corpo transpirava, foi inundando o quarto, Luíza se afogava, bebia o próprio gozo, lambia a própria alma. Sentia-se. Consumia sua língua áspera, sorvia seu hálito acerbo. Tremia, xingava, percorria os pelos, traçava caminhos. Descobria pontos, buracos, intumescências.

Tinha seu corpo. Possuía a si mesma. Ia se entrando, se saindo. Possuía seu prazer; era seu próprio prazer. Luíza foi flutuando, comendo sua carne. Sentia um desespero bom, uma agonia de grito, de lampejo, de dor, de sexo bem feito.

E se atirou na cama, lassa, mole, morta de cansaço. Ofegava o mundo; tinha o mundo em seu útero. Era mulher e dona de si mesma!

Estava na cama. O lado esquerdo intocado, contínuo, organizado como sempre deixava. Luíza não gostava de acordar só. Não que algum dia tenha tido a oportunidade de saber o que é acordar junto todos os dias.

Rodrigo Sanchez
Enviado por Rodrigo Sanchez em 20/09/2017
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