Eu, ela e o pudim

Não sabia se era gostar, ou o que diabo era que comandava as minhas vontades, realmente ás vezes tinha mesmo é ódio dela e daquele pudim maldito que ela insistia em comer na minha casa.Lutei contra o meu desejo desde de moleque, desde a primeira vez que vi aquela menina, tão desprotegida, das ofensas e dos olhares, tão delicada.Quando a vi fiquei hipnotizado, lembro-me que até comentei com o Bruno, meu vizinho, filho da Dona Dorinha que me viu com cara de besta olhando ela e seu vestido rosa florido e foi justamente ele, o filho da Dona Dorinha, que me chamou a atenção para algo que eu não havia percebido :ela era gorda.Eu não havia percebido, não por que fosse míope, ou por que a roupa disfarçava, não havia percebido por que foi á primeira vista, por que ela iria ser a primeira e a única.

Foi também naquele dia que percebi que o fato dela ser gorda, para os outros, ia muito além da sua delicadeza, do seu vestido florido ou de qualquer coisa que eu poderia explicar para aquele cabeça de melão do Bruno.

Fiz de tudo para falar com ela, de tudo mesmo, ai de alguém que a ofendesse perto de mim, ouviria um sermão da montanha, como dizia a minha mãe, só que para encobrir o meu gostar, já influenciado pela opinião do Bruno, passei também a proteger todas as outras crianças do bairro que por alguma maneira eram excluídas por ser gordo, magro, negro, japonês, o que fosse.Nada escapava, virei o Ghandi miri, o pacificador.Confesso que um lado meu até ficava feliz quando alguém falava algo para ela, pois era a maneira que eu tinha de arrumar o que falar, foi assim que viramos amigos e foi assim que ela comeu pudim a primeira vez na minha casa.

Minha mãe a adorava, ela, seus vestidos, sua delicadeza.Parecia que a minha mãe tinha os mesmos olhos que eu, ou talvez simplesmente ficasse óbvio para ela que me conhecia, que era dela que eu gostava.

Por conta do seu afeto e das minhas notas baixas a minha mãe passou a convidá-la todas as quintas para ir lá em casa e todas as quintas a minha mãe fazia pudim e todas as quintas ela comia pudim.Comia e comia e comia, devagar e sempre.E eu perdido ficava naquelas sardas e naquela boca tão pequena coberta de pudim.Pudim maldito!!!!Como eu odiava aquele pudim e atenção que ele me roubava, eu poderia estar falando a coisa mais importante do mundo que quando a minha mãe falava que o pudim estava pronto o mundo dela parava.Lá ia ela correndo para a cozinha e falando :

-Espera um pouquinho que eu já volto.

Voltava nada, depois do pudim ela ia a conversar e lá ficavam os três, ela, minha mãe e o pudim.Ás vezes quando ela ia embora eu pensava : do que adiantava eu passar a semana inteira esperando a quinta-feira, a semana inteira achando que pouco importava quantas figurinhas eu havia ganho, a semana inteira andando com o chato do Hiroshi (um garoto que eu havia defendido para encobrir meus sentimentos por ela) se ela gostava era do pudim..

Ás vezes a raiva era tão grande que chegava a superar a vontade de vê-la, e aí eu começava a brigar com todo mundo, jogava toda a raiva que eu tinha daquele pudim maldito em qualquer um.Era no futebol, era na professora, era até na minha mãe que me cobria de porrada e lá ia eu “dormir quente”.

Pudim maldito !!!!!!

Foram anos vivendo o que depois graças as novelas vim a saber que se tratava de um triângulo amoroso.Eu, ela e o pudim.Cheguei a dar váris ultimatos para ela, é lógico sem ela saber.Tentei olhar outros vestidos flridos, outrsa saianhas e outras boquinhas vermelhsa, mas no final, ela estava lá, na quinta-feira, como sempre.

Tentei em vão me recusar a ir para a padaria comprar leite para a minha mãe, mas de nada adiantou.Nada podia separá-los, o amor era tanto que memsmo adolescente quando ela tentou fazer um regime cortou tudo menos o lazarento.Só ele ficou ou melhor ela também ficou, ficou linda.E o pior agora todos viam aquela menina de vestido rosa, que para a minha desgraça nem menina ela era mais, bnem vestido rosa florido usava.

Agora eloa usava uma saia curta maldita que destronou o pudim no meu pódio de raiva íntimo.Atrás da saia vinham uma seqüência de marmanjos da minha rua, inclusive aquele traíra do Bruno, o filho da Dona Dorinha, babando em cima da minha ex-gordinha comedora de pudins.

Foi justamente ele que casou com ela, para a minha desgraça, ele que me fez repara na sua gordura e depois no pudim, que me fez olhando sem nada dizer.

Agora eu não odeio mais o pudim, nem a saia, nem o Bruno , o filho da Dona Dorinha.Eu me odeio.

Kátia Moraes
Enviado por Kátia Moraes em 17/08/2007
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