O Anjo Particular

Tenho conversado, insistido e procurado a companhia do meu Anjo. Passei por um grave bloqueio de escrita, não é para menos, tenho acendido velas de manhã e a noite, rezado orações maçantes e repetitivas. Temo de uma forma indistinta a solidão. Acho que estou criando um amigo imaginário, sei lá, gosto do meu Anjo, sobretudo quando estou sozinho, fazendo alguma leitura e antes de dormir. Têm sido assim meus dias, eu, meus livros e o anjo. Já tenho liberdade demasiada com ele. Há uns três dias passei a dar boa noite e bom dia, já mantenho um dialogo franco e inteligível com ele, confessei todos meus pecados, abri meu coração, até deliberei sobre conjecturas cósmicas e metafísicas. Devo confessar que ele tem sido uma parceria salubre, é bom sentir-se acompanhado. Digo: Ele nunca me criticou – e olha que ele sabe muito de mim – aceita tudo que eu lhe digo com uma resignação admirável. Acho que já o amo o suficiente para comprar-lhe uma vela de sete dias. Ele não fez abismo tornar-se planície, terra virar céu e muito menos fez nascer dinheiro em arvore. De qualquer forma sou grato a ele por ter tornado noite luz, dia santo e minha solidão um vício.

Rodrigo Sanchez
Enviado por Rodrigo Sanchez em 14/09/2017
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