O PÔR DO SOL

Naquela tarde quente, o discípulo recém chegado dirigi-se ao mestre que permanecia sentado em silêncio na entrada do templo. Curioso, indaga o velho sábio: "Mestre, o que o senhor está fazendo aí?"

O mestre, pacientemente responde:"Estou observando a beleza da natureza."

O discípulo olha em volta e percebe que para se observar alguma coisa teria que atravessar um pátio de pedra até chegar no beiral que dá vista para as montanhas.

Novamente, o jovem questiona o sábio: "Mestre, por que o senhor não vai até o beiral? Daqui não consegue-se enxergar nada!"

O senhor de cabelos brancos desgrenhados fala calmamente: "Filho, tire as sandálias e vá até lá."

O afoito discípulo atende o mestre, mas no segundo passo volta correndo.

"Mestre, impossível caminhar nesse chão tão quente. Queimei meus pés..."

"Sente-se aqui comigo em silêncio." Bradou o sábio.

Passado algum tempo, o mestre deu a mesma ordem e novamente o discípulo queimou seus pés.

Após algumas horas de silêncio, já no final da tarde, o franzino sábio convidou o jovem a ir com ele até o beiral. O sol havia perdido força e os dois puderam observar as montanhas e ganhar como presente o pôr do sol.

O sábio segurou no ombro esquerdo do discípulo e disse: "Seremos desafiados pela vida, mas a impaciência pode acabar nos machucando. Muitas vezes, devemos esperar as coisas esfriarem e caminharmos no momento em que for possível chegar onde planejamos. No meu coração eu já tinha a certeza do que queria, mas para se chegar ao pôr do sol é preciso esperar o final do dia."

Com os olhos cheio de lágrimas, o discípulo apenas sorriu...