Nhô Augusto

Quem vem lá!? Ouviu-se de estrondo e vozerio arretado de brabo. Não era raro, de tempos em tempos, nhô Augusto, chegar assim "Quem vem lá!" Não era uma pessoa má de alma, porém, de sprito decidido que nessa vida nunca que ia baixar a cabeça. Nhô Augusto, era homem mais temido das bandas de Montanhas. Com ele não tinha meia conversa, nem gostava disso, era calado, mas quando falava era riscado na terra, sim, curto e grosso.

É sabido que para cada Nhô Augusto existe seis de tocaia. Seis esperando o momento certo pra dar cabo naquele que não conseguem enfrentar de olho no olho. De modo que, sempre que saia pras bandas do Riachão, lugar dez léguas em direção assim de lado, mais pra ponta do norte, mas um pouco caído pro lado, Nhô Augusto tomava todas as precauções e fazia as rezas necessárias.

Era homem de corage, sabia. Porém, não descuidava da proteção de nosso sinhô, nem da virgem Maria. Não era dado ir pra igreja - essas besteiras de ajoelhar pra tudo lhe causava asco -, mas sempre que saia pras bandas do Riachão, horas antes da partida, Nhô Augusto, se trancava no pequeno quarto e rezava. “Sim, rezo sim, sou temente a nosso sinhô, só sou temente a ele, porque do resto, seja homem ou bicho peçonhento, ah, desses não temo nada”. Dizia que quem sai pro Riachão sem a proteção do nosso sinhô e da virgem Maria, num sabe, mas pode ser alvo de tocaia. “Foi lá, que deram cabo no Quim, também no Zé do laço, no Zé do burro, num se lembram? Riachão é lugar certinho pra tocaiá! Lugar arriba da montanha pra facilitá a observação, cercado de arbustos. Quem vem por baixo de Riachão não dá pra ver nada, fica desprotegido, a mercê das balas ou surpreendido por faca, então eu rezo sim. Inté desconfio que já quiseram me tocaiá, mas não deu certo, porque bem na hora que eu passava, um Carcará, como se me avisasse, deu seu grito. Foi bem nessa hora, que eu vi os arbustos balançarem e nacos de terra caíram nos meus pés.”

Certo dia, chegou nas redondezas notícias de um certo Zé Trindade. Ninguém sabia mais nada além de que era um sujeito muito bão para o serviço que contratavam. Que combinado com ele, era igual jura de sangue: caso alguém não cumprisse o combinado, era com o sangue que se pagava a dívida. Falavam que um dia ele deu fim em quatro sujeitos que tentaram tocaiar ele. Dos quatro, um tinha dívida com ele por um serviço grande. Era para dar cabo de um coroné. Ele deu cabo do cabra, mas na hora do acerto do dinheiro, o sujeito, desafeto e contratante da morte do coroné, disse que não ia pagá. Que achava melhor Zé Trindade ir embora porque senão ele ia denunciar pras autoridades.

Tomado de fúria, Zé Trindade pegou o sujeito pelo pescoço e meteu a lâmina da pexera no rosto do dele. Disse que não ia mata-lo, não. Ia deixar ele com uma avenida na cara para que todos o vissem, e ele mesmo, quando olhar no espelho, que cabra safado num merece morrê, não. É preciso que ele viva e sirva de lição pros outros. Que homem que é homem, não precisa de assinatura em contrato; a palavra basta!

O fato, é que à boca pequena corria o assunto do tal Zé Trindade.

Nhô Augusto não temia a outro homem, porém, também não era homem de brincar com o destino. Naquele dia, como em tantos outros, o sol queima já na sombra. Nhô Augusto, como de costume, acordou antes da aurora. Tomou seu café preto e acendeu seu cigarro. Ficou na varanda da sua choupana, calado. Depois de terminar seu cigarro e cansado de pensar na vida dura que é viver no sertão, Nhô Augusto, homem firme nos passos, decide que tinha que ir até a cidade e que, para isso, tinha que passar por Riachão. Por algum instante parou entre a porta da varanda e a cozinha. Olhou pra trás...Certo de que era só cisma sua, resolve que vai até a cidade. Sai.

Mês depois, chega notícia: dois homens encontrados nas redondezas de Montanhas com Riachão. Um é filho de Montanha, Nhô Augusto. O outro, sabe-se que era de nome Zé Trindade. O primeiro foi encontrado enforcado com uma carta na mão. O outro furado de 3 tiros. Um no estômago, um no braço e outro pescoço. Ao ler a carta, o doutor delegado, com a autoridade que tem e a plumagem do cargo, fez saber aos Montanheses, que a carta em mãos de Nhô Augusto, dizia que o cadáver no chão, era de seu irmão. Irmão que ele pensava já morto, pois, desde 8 anos de idade ouvia sua mãe e pai dizerem que o menino morrera com 3 anos, de fome e verme. E que só viu que o defunto era seu parente porque no braço esquerdo ele tinha o nome da mãe, do pai e o dele. Nhô Augusto pôs fim a sua vida porque dizia: “ temo a nosso senhô e à virgem Maria. Sigo os mandamento na risca, mas, se um dia, fazer mal que qualquer de minha família, deus vai me perdoar, mas ponho fim na minha vida”