AQUEÇA-ME OUTRA VEZ

Era uma tarde fria, daquelas que faz com que cada um dos meros humanos, tirem do
guarda roupa aqueles agasalhos, com aroma de naftalinas. Concordo, claro que tem
aqueles com sobra de tempo ou empregadas para lavar a cada quinze dias. E enfim, sai
com quem não quer nada em direção aquele shopping pobre, que em cada corredor
encontramos à vizinhança toda.
Já passava do horário de almoço, e adentrei naquele inferno que é a praça de
alimentação. Crianças gritando, casais conversando, familiares reunidos, paqueras para
tudo que é lado, e eu ali no meio de tudo e todos, sozinho mais uma vez.
Após percorrer aquela enorme fila para comprar o lanche, encontrei entre milhares, uma
mesa vazia. Sentei-me e antes mesmo de abocanhar o sanduíche, como em um passe de
mágica, mergulhei em velhas lembranças...
Lembranças perdidas, de uma história de amor que a muito tempo tive o prazer de viver.
Era uma saudosa lembrança, de uma antiga namorada, hoje casada e feliz ao lado do
marido. Claro que tive uma parcela nessa felicidade alheia, caso contrário se ela estivesse
ao meu lado seria com certeza mais uma entre milhares de esposas que vivem nesse
imenso mundo infeliz ao lado dos seus respectivos maridos.
A vida é feita de escolhas, e no meu caso, na época escolhi continuar solteiro, e escapei
por um triz de contrair o matrimônio. A nossa relação era intensa, mais paixão e desejo,
quando em momentos as sós, os beijos ardentes, os corpos unidos, e os abraços
apertados nos conduzia aos momentos de intenso prazer.
A nossa história teve um triste fim, e até hoje carrego na alma, vestígios do outrora calor
que sentia. Às vezes é mesmo assim, tomamos decisões que no futuro, as lembranças irão
explodir, e a saudade faz com que por momentos ou quem sabe em algum futuro,
possamos sentir o mesmo calor, paixão e desejo que sentíamos ao lado de quem um dia
vivemos uma ardente paixão. Desejo ser aquecido uma vez mais, de sentir e degustar os
outrora beijos ardentes, abraçar e sentir prazer na mesma intensidade.
E nas mãos um sanduiche já frio, pelo tempo tomado pelas velhas lembranças. Devorei
meio que sem gosto, acompanhado do suco já morno. E mais que depressa sai daquele
inferno, do meio daquela algazarra, e conversas estridentes, e inúmeros casais
apaixonados.