Tempo Real
Eric do Vale
Eu estava com a cabeça repleta de preocupações, quando a avistei do outro lado da calçada. Reconheço que fui o grande responsável pelo nosso distanciamento; depois disso, chegamos a nos encontrar meio que casualmente; mas o nosso contato, como era de se esperar, passou a ser bastante formal.
Ao ser notado por ela, atravessei a calçada e perguntei:
-O que está fazendo?
- Eu vou...
-Posso te acompanhar?
-Sim.
Trocamos menos do que três palavras e quando atravessamos o primeiro quarteirão, deixamos de lado todos os nossos afazeres. O cheiro dela permaneceu na minha pele, assim como o gosto do batom que, por um longo período, ficou na minha boca.
Custei a acreditar no que tinha acontecido, instantes atrás. Estou certo de que ela, assim como eu, ficou sem entender coisa alguma. Gostaria de saber o que deve ter passado pela cabeça dela, durante e depois daquele ocorrido.