Na fila do caixa *
Um senhor observava um pai e o filho na fila do caixa da loja de departamentos.
— Pai, me compra aquele carrinho de controle remoto? – a criança apontou para a prateleira de brinquedos.
— Tá maluco, moleque? Eu só vim aqui comprar essa lâmpada porque a lá de casa queimou. E além do mais, presente é só no aniversário e no Natal. No máximo uma lembrancinha no Dia das Crianças – o pai franziu a testa, sem mesmo tirar os olhos da fila à frente.
— Ah, pai, então compra aquele boneco de super-herói ali? – insistiu.
— Não tenho dinheiro! – quis encerrar o assunto de uma vez.
— Então usa o cartão – continuou o menino.
— Tá pensando que é assim? – irritou-se. – Que a vida é fácil? Que dinheiro nasce em árvore? Que meu salário não é suado? Acha que eu rasgo dinheiro? Você não tem casa, comida e roupa? Sabia que tem criança passando fome na rua, e você aí pedindo brinquedo? Brinque com os brinquedos que já tem em casa. Que coisa!
A fila andava. O menino desistiu dos brinquedos e mirou a prateleira de guloseimas ao lado.
— Pai, eu queria muito comer esses salgadinhos. Eu não te peço mais nada hoje. Compra, vai?
— Esses salgadinhos são muito caros, filho. E são puro sódio. Fruta tem em casa e você não quer, né? Quer gastar dinheiro com essas porcarias. Isso que é gastar dinheiro à toa.
Chegaram ao caixa. O menino se esticava para ver os doces acima da esteira. Eram os últimos produtos à venda.
— Olha, pai, essa bala aqui. É daquelas balas de morango e nem custam caro. Se sobrar umas moedinhas de troco, você pode comprar uma, então?
O pai reclinou para ver o preço. Coisa de centavos. Passou as moedas do troco por entre os dedos e torceu a boca.
— Tudo bem, filho. Então uma bala. Mas só essa bala, entendeu? – o pai sacudia a bala diante dos olhinhos do filho, como tivesse surrupiado uma moeda de um cofrinho.
O menino desembrulhou a embalagem como a um presente e chupava a bala como se ela fosse um grande prêmio.
Ali perto, o senhor que havia visto a cena, resolveu consolar o menino na saída da loja:
— Garotinho insistente você. Que bom que ficou feliz com a bala, mesmo não conseguindo o que você queria.
O menino olhou para o velho e, sem perder o rumo da língua saboreando cada pedaço do doce, respondeu:
— Meu pai gosta de se sentir fazendo um bom negócio. Se eu tivesse pedido a bala primeiro ele teria dito que não ia dar, e daí eu não teria mais o que pedir. Aquilo tudo que eu inventei foi só pra ele ir pechinchando mesmo, entendeu? – engoliu satisfeito o sabor doce da bala e sorriu mais uma vez. – Eu só queria mesmo era essa bala.
(publicado em: Palavra é Arte – Contos e Crônicas, 2018)