Juvenal Cerqueira
Juvenal Cerqueira bebeu até às 15 horas.
- Seu Juvenal, vai com Deus!
Saiu sem dizer. Tropeçava nos próprios pés. Escorava-se nas paredes. Perdia os sapatos.
Na rua, o perigo.
- Seu louco!
- Sai da rua!
- Bebum!
- Irresponsável!
Chegou do outro lado pisando mole. Cambaleou.
Pé pós pé. Cada qual para um lado. Entretanto, avançava.
Quem por pele passava sussurrava:
- Pobre da esposa!
- Pobre dos filhos!
Fedia.
- Que horror!
Tentou resmungar algumas letras. Só saiu.
- Virgi... virgi... mãe...
Entretanto ia.
Caiu seu celular. Caiu sua carteira. Um menino sujo os levou sorridente. Sem olhar para trás.
Outro se aproximou de Juvenal. E berrou:
- Vai cair! Vai cair!
Juvenal quase despencou. Com as duas mãos sustentou o pobre corpo. De quatro.
Alguém, por trás, com o pé direito direto em seu traseiro. Juvenal ainda de quatro.
E assim ficou até às 22 horas da noite. E assim o encontraram feito estátua. Fazia 5 graus negativos naquela noite.
Dona Santinha só soube semanas depois.
- Bebia demais meu marido...
A vizinha:
- Ele só tinha 54...
- Mas quem vai contratar um homem nesta idade!?
Inverno, agosto de 2017