Além do imaginável
Estava frio, muito frio mesmo e queria que esfriasse ainda mais, muito mais!
Queria que seu coração e seu cérebro congelassem definidamente.
Não queria sentir coisa alguma, não queria raciocínio e nem lembranças.
A agonia era tanta que sentia agora necessidade de falar para qualquer ser.
Mas não adiantaria dizer o tamanho da sua dor e das suas feridas.
Não havia um motivo que lhe faria dizer para alguém o que não mais suportava.
Ninguém jamais poderia curar uma das suas dores e nem estancar o que sangrava.
Atrocidades amontoadas dentro dela que não queria mais, não queria!
A impossibilidade da ausência permanente daquilo que sabe é uma impossibilidade.
Queria congelar de todas as formas, mas precisava suportar aquele dilaceramento.
Por teimosia prosseguiu e foi uma ferida após a outra que lhe foi acrescentada.
Estava em pé ainda, mas uma perda que lhe amputou uma parte de si fez que aceitasse.
Aceitou que estava realmente destruída, então tentou parar e parou de tentar.
Sabia com certeza absoluta que nada mais suportaria sem que a destruição fosse fatal.
Sem que esperasse ficou muito aterrorizada após receber uma mensagem avassaladora.
Instalou-se o pânico, não o medo, mas o pânico doentio e perverso e se isolou de tudo.
Anos de pavores, medo de tudo, medo irracional, mas real e sofrido desesperadamente.
Estava quase melhorando quando desprevenida saiu do seu mundo para o mundo das gentes.
Participou daquele mundo de horrores, que já conhecia profundamente, sem cuidar de si.
Deu de cara com uma crueldade jamais vivida e nem imaginada e agora só queria ser iceberg; conseguiu.