Um Pouquinho De Mágica E Amor
O desejo de ser médico nasceu aos seis anos quando a médica pegou sua mão e caminhando até a Sala de Emergência lhe disse, "Vou fazer uma mágica especialmente para você, Augusto".
O menino conhecia bem aquele hospital onde sua irmãzinha foi atendida durante dois anos e meio. Não importava se fazia sol ou chuva, sua Mãe comparecia pontualmente no Hospital Pérola Byington para as centenas de consultas, cirurgias e fisioterapia intensa. Nas férias ele implorava para acompanhar as duas. Alegava que poderia ajudar a carregar a necessaire e cuidar da irmãzinha que dava uma bela canseira na Mãe.
Haviam comentado sobre uma pequena cirurgia para remover a verruga, mas havia relutância por parte da Mãe que por sua vez lembrava das histórias das suas Avós: "Se tirar uma e o sangue espalhar, aí mais 'berrugas' nascem. Melhor não mexer. Deixa quieto ou o menino vai ficar cheio de 'berruga' no rosto".
A Mãe sempre perguntava se a verruga incomodava ou atrapalhava sua visão e ele sempre respondia que não.
Ao conversar com a médica da filha, ficou sabendo que era apenas um probleminha de nada que seria resolvido em poucos minutos com um pequeno corte.
Uma certa manhã, a verruga desapareceu num passe de mágica com aquela pequena varinha de condão de metal na mão firme da Dra. Salete.
Ao sair da sala de fisioterapia com a Ana no colo, a Mamãe viu o Augusto com aquele enorme sorriso 'janelinha' escancarado.
O menino gritou todo alegre: "Veja só Mamãe! Mágica!"
A Mãe lhe disse certa vez, "Não existe nada mais bonito do que ver um filho sorrir, mesmo banguelo".
A verruguinha não chegou a tocar na sua auto estima, nem prejudicar a sua visão, mas sabia como era difícil uma criança ser diferente das outras por causa da própria irmã que tinha suas limitações devido as complicações de saúde. Como a Mamãe se esforçava para fazer a vida da irmã o mais normal possível. Quantas vezes não ouviu, "Coitadinha da sua filha" ou "Que peninha! Que dó!", que a deixava louca de raiva. Em plena recuperação, Aninha fazia suas conquistas, como andar sozinha (sem ter aprendido a engatinhar), largar as fraldas antes dos dois anos (mesmo operada e colostomizada), brigar por bonecas e o colo do Augusto com sua prima, escapar da Vovó correndo que nem um velocista olímpico ... Como ficar com dó daquela pequena grande guerreira!
O tempo passou, mas Augusto nunca esqueceu daqueles dias. Nem tão pouco esqueceu seu desejo em ser médico e a varinha mágica da Dra. Salete. Apenas descobriu que tinha uma vocação maior: A Mágica.
É por tudo isso que o Augusto volta toda semana ao hospital com seu troupe para fazer a diferença.
Durante algumas horas, o hospital vira uma festa animada onde se ouve risos, gargalhadas e gritinhos de alegria. A vibração do lúdico contagia a todos e a mágica ajuda a curar. Até as feridas invisíveis.