A noite anterior
Estava meio escuro, não dava para ver quase nada. O jovem tentou se situar no recinto e, sem se dar conta, percebera um local esquisito, sem cor, sem tato, sem odor. Constatou, aos poucos, que tratava-se de algo totalmente sem mesura, situação pela qual nunca tinha passado antes. No entanto, levantara-se cautelosamente e, a passos curtos e desconfiados, fora analisando o local para tomar conhecimento de onde estava. A imensa dor de cabeça não o ajudava a lembrar de nada da noite anterior, e isto o incomodava demais, tendo em vista que ainda estava acompanhado de alguns amigos.
Apoiara a mão na parede para se acalmar e forçar um pouco a mente a lembrar de todos os fatos, mas não conseguia pensar em nada. Aos poucos ia tomando algum caminho, desnorteadamente, para alcançar algum botão e ligar a luz do local, no entanto, de repente, alguém abrira uma porta. Uma mulher aparecera. Uma mulher bonita, morena, cabelos lisos, olhos castanhos, pele um pouco áspera, mas notadamente macia o suficiente para ser algo sensível. Ao abrir a boca para falar, a voz mais parecia um canto de sabiá, de tão sonoro, agudo e sereno que acalmava a alma. Uma voz que fazia o rapaz lembrar cada vez de toda a situação anterior. Ao abrir aos poucos seus olhos semicerrados, deparou-se com a bela mulher, que era sua esposa.
De repente, a sensação de inquietude fora se dissipando e, após umas trocas de palavras, a memória fora voltando e trazendo de volta todos os problemas da noite anterior, quando o rapaz, sofrendo de sua esquizofrenia paranoica, perdera o juízo crítico e começara a tentar fazer experimentos em si próprio para sentir-se mais adequado a uma sociedade sem compaixão.