Relatório

Hoje a vi debaixo do Sol. Num dia congelante, fez daquele chuveiro luminoso sua casa. Entrei sem pedir licença, a fim de observar a poça de folhas brancas que a mantinha de cabeça baixa, esquecida do mundo.

Estava acompanhada por conversa trivial, e, esperando que meu olhar atraísse seus pensamentos para meu cômodo, talvez tenha tornado meus olhos estrábicos. Menina, se soubesse o quanto estava interessante concentrada na brancura, construiria uma bilheteria na porta do lar amarelo.

Eu compraria dois ingressos, já que tenho mania de perder coisas importantes, até quando vivas. Pagaria para assisti-la, mas também inventá-la. Criaria sua postura ligeiramente torta, como têm todas as criaturas belas; uma agitação atmosférica cuja presença bagunçaria sua poça magnânima; sua respiração profunda, combinando com a distração deliciosa, e a escala de dimensões ínfimas entre nossos pés.

Embora tal criação satisfizesse-me, redesenharia cada milímetro, procurando restabelecer o quadro original, pediria desculpas por interromper qualquer intenção de surpresa ou atordoamento e fugiria, envergonhada por aquele assalto à espontaneidade.

De chofre, a conversa agarrou-me pelo cotovelo: “precisamos estudar”. Olhando, desta vez, completamente, na direção da poça e você no meio dela, não poderia discordar. Então, cumpri meu dever por mais alguns minutos, enquanto não fui arrastada pela sombra para fora de seu teto.

Menina Triste
Enviado por Menina Triste em 05/07/2017
Reeditado em 06/07/2017
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