O MENINO E A CIGARRA

Pedrinho era um menino simplório, vivia sozinho o tempo todo. Por mais que se esforçasse não conseguia atrair amiguinhos para si. Ficava sempre a pensar: porque todo mundo tem amigo, brincam na rua, jogam futebol e eu não consigo uma amizade sequer. Esta situação o deixava infeliz e também um pouco revoltado, pois ninguém o convidava para brincar, conversar e até fazer travessuras, coisas de criança de sua idade. Um dia de tanto a pensar sentou-se sob a árvore do seu quintal numa gostosa sombra pôs-se a chorar, chorava copiosamente diante de tal situação até que ele pensou ouvir uma voz do alto, assustou-se, olhou não viu ninguém e voltou a chorar. Passou-se um tempo aquela voz de novo a atormentar o pobre menino. Porém desta vez ele ouvia com nitidez esta estranha voz. Ei, psiu, não estás me ouvindo? Olha eu aqui em cima do galho, quero conversar contigo. Mas quem está falando, não vejo ninguém ao meu redor. Não seja tolo, por acaso não estás vendo uma cigarra neste galho acima da tua cabeça? Onde? Qual galho? Quem estaria pendurado neste galho tão frágil sem cair ao chão? O Pedrinho não seja tolo, sou eu, uma linda cigarra que canta e encanta a quem me ouve. Cigarra? E desde quando bicho fala? As cigarras que eu conheço só cantam. Todas as manhãs eu ouço elas cantando, me sinto maravilhado com seu canto, é como eu estivesse conversando com elas. Então menino, agora tens a oportunidade de conversar verdadeiramente com uma cigarra. Mas cigarra não fala, eu nunca vi, só em desenho na televisão, mas sei que é de mentirinha. Mas eu sou de verdade, desejo ser tua amiga para sempre. Antes de qualquer coisa precisamos entrar num acordo. Que acordo? Ainda não te conheço. Vamos fazer o seguinte, leve tua mão até este galho vou pousar sobre ela e assim conversaremos mais de perto, a gente se conhece melhor. Tenho certeza que seremos grandes amigos. Tá bom suba na minha mão e vamos sentar naquele banco tosco que eu mesmo fiz há uns tempos atrás. Puxa Pedrinho, foi tu mesmo que fez este banco? Que bonito, ficou bem parecido contigo. É mesmo dona cigarra? A senhora gostou dele? É claro que gostei, não costumo mentir principalmente para um menino bonito e inteligente feito tu. Ah tem uma coisa não precisa me chamar de senhora, me trate apenas de amiga cigarra. Certo, a partir de agora vou chamar de amiga cigarra. Obrigado me achar bonito e inteligente, sabe é a primeira vez que escuto isto, até me emocionei. Não precisa agradecer, pois é isto que tu és. Tá bom amiga cigarra tô feliz em arranjar uma amiga, assim tenho como conversar, contar meus segredos né. Tu tens segredo, Pedrinho? Agora quero saber, conta pra mim, vai, eu adoro escutar segredo. Deixa de ser xerida, amiga cigarra, ainda nem te conheço direito e já quer saber da minha vida? Mas tu falou que tem segredo para contar, então tô esperando. Sabe amiga cigarra, quase toda noite eu sonho de estar voando que nem um pássaro vou de um lugar para outro. Passo por cima de cidades, campos, já passei até por cima da minha casa e lá de cima via tudinho, minha mãe fazendo comida, rezando de mãos dadas como ela me ensinou. O problema é que eu fico confuso quando me acordo daí não conto pra ninguém, nem para minha mãe. Porque não contas para tua mãe, Pedrinho? Eu tenho medo. Medo de que? Medo de ela não entender e me dar bronca, por isso não conto. Tu és a primeira pessoa que estou contando, desculpe pessoa não, tu és uma cigarra. Ah tem mais, às vezes também sonho que estou dentro de um túnel e esse túnel gira, gira, e eu vou me enrolando dentro dele para o fundo, então me acordo com medo. Sabe Pedrinho foi muito bom falar isso para mim, eu entendo tua preocupação, mas tenho certeza se tu contar para tua mãe ela vai compreender e não dará bronca em ti. A tua mãe é uma pessoa maravilhosa, bondosa e meiga com um coração muito grande. Como sabes? Tu conheces minha mãe? Claro que sim, eu a vejo todo dia quando aqui venho cantar para te alegrar. Ela também escuta meu cantar e fica feliz me ouvindo. Sobre os teus sonhos não te preocupes, todas as pessoas sonham, isto é normal. Mas meu sonho também é sonhado por outras pessoas, igualzinho assim? Cada pessoa tem vários tipos de sonhos, eles não são iguais, depende da sensibilidade de cada um. O que é sensibilidade? Sensibilidade é um tipo de emoção sentida por algo que não sabemos explicar. Por exemplo, quando tu ouves meu cantar algo dentro de ti se altera, seja a batida do coração acelerando, vontade de chorar, de sorrir, quer dizer a tua postura muda com um desejo, uma delicadeza, como estás sentindo agora. Teu comportamento se alterou, estás mais sorridente, compenetrado em nossa conversa, isto é sensibilidade, é emoção. É eu sou assim mesmo, mas sempre me tranco. Então a partir de hoje tu vai liberar estas emoções com mais intensidade, nada de trancar. Com certeza vai te sentir mais solto, mais alegre. Irás perceber que tua vida vai mudar para melhor. Vão aparecer amigos querendo brincar contigo, fazer traquinagem, basta que permitas acontecer. Mas olha bem, sem ultrapassar os limites. Não fazer o mal a ninguém, sempre ajudar a quem necessitar principalmente sua mãe com os deveres da casa. Estudar para ter um futuro brilhante. Falar em estudar, já pensou o que deseja ser quando crescer? Olha amiga cigarra, ainda não pensei, mas gosto muito de planta, bicho, mas gosto também de ver televisão assistindo desenhos. Tá certo, Pedrinho, ainda é cedo para pensar em futuro. Aproveite bastante esta fase de ouro, ela não volta mais, cada dia é um dia. Papai do céu gosta de ver as crianças felizes, sorrindo, cantando, brincando, se ajudando uns aos outros, seus pais e amigos. As crianças são sua inspiração como também devem ser para os adultos. Amiga cigarra me desculpe, mas já estou me sentindo cansado e minha mãe deve estar preocupada comigo. Eu vou indo embora, mas amanhã a gente pode se encontrar para conversar um pouco mais. Claro Pedrinho, sempre estou aqui todas as manhãs a cantarolar no mesmo lugar para te alegrar. Tchau amiga cigarra, tchau amigo Pedrinho, até amanhã.

Valmir Vilmar de Sousa (Veve) 02/07/17

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 05/07/2017
Reeditado em 17/09/2017
Código do texto: T6046798
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