Cadeia Amizade, uma obra do governo de São Paulo

Meu grande amigo Cláudio, padeiro num dia, presidiário no outro e nos que se seguiram. Sua simpatia entre paredes cruas de sala de visita ainda me lembra pão, mas sem manteiga. Resisti a permitir que a carranca de madrugador fosse coberta por laranja neon, e, dessa tentativa, resultaram nossos sorrisos laranja.

Trago sempre notícias do bar, porque era padeiro de bar. De uma vez, despejo a vida do Cláudio destrancado para passar mais rápido o olhar sem interesse, só que, então, seguem-se as insinuações afiadas de um bicho enjaulado.

“Venho por vontade própria, larga do meu pé”. “Não me amole, sou seu amigo”. “Você vai sair, nem que precise entrar no seu lugar”. Com o esforço de quem nunca chegou perto de uma infelicidade como essa, mais deixava transparecer meu desconforto que transmitir conforto. Outros colegas da roda disseram ser inúteis todos os sábados investidos nessas cenas desengonçadas.

Talvez fossem mesmo.

Estava patente o efeito sanguessuga da minha presença, a qual absorvia qualquer resíduo de conformidade. Restaria amizade no abandono? O quão indigno pareceria diante da roda de bar? Haveria destino mais significativo para meus sábados?

Guardava todas as perguntas debaixo da nossa grande amizade. Devia isso a Cláudio, a mim e à lacuna do sétimo dia. Não pensava muito durante o encontro, aguardando nossa despedida silenciosa. Então, dado o aviso do guarda, acenava com a cabeça e dizia sem voz:

- Até, minha grande amiga obrigação.