Jaqueline
Entrei no quarto dela pela janela. Ela me olhou e disse:
- Você sabe que tenho porta não é?!
- Tô sabendo.
Ela fumava um cigarro "batizado" e tocavam violão. Fui na pia dela e peguei a cafeteira.
- De quando é esse café?
- Hoje mais cedo. De manhã.
Peguei uma xícara. Não tava nada mal.
- Olha só - ela disse - Fiz uma música nova.
- Legal. Toca aí.
- Segura aqui pra mim - disse me passando o "batizado" - Pode fumar se quiser.
Ela começou a tocar. Eu gostava da voz dela, embora fosse muito linear. Ela tocava bem também, mas nada de mais.
A música era em Fá e falava do suicídio de uma tal de Juliana. Eu gostei. Quando ela terminou eu aplaudi e dei um "uhu" e uns assobios.
- Você gostou mesmo?
- É claro que sim.
Os artistas ruins normalmente só fazem o que fazem porque alguém, que normalmente é um amigo ou um parente, diz que o negocio tá bom. Na maioria das vezes num tá bom, mas ninguém quer decepcionar ninguém não é mesmo?!
- Esse aqui é natural?
- É sim. Gostou?
- Muito.
- Não precisa prender no pulmão.
- Tudo bem.
Devolvi pra ela em seguida.
- Olha só - ela disse - Já já o Johnny vem aqui e...
- Tô ligado.
- Pois é...
Bebi mais um pouco de café.
- Toca aquela de amor.
- Acho melhor você ir agora.
- Posso usar a janela?
Ela sorriu.
- Pode.
Deixei a xícara e a garrafa na pia e pulei a janela.
- Até mais - eu disse indo embora.