Contos de premissa de fevereiro - DIA 1

Contos de premissa de fevereiro

21 de fevereiro de 1977, 22:32.

“Hoje foi um dia estranho. Pego-me refletindo acerca de pensamentos feitos perante à minha pessoa e percebo a necessidade de um julgamento de suas possíveis futuras ações. Percebo também a inutilização dada ao cérebro pelo próprio cérebro, nas pessoas. Elas têm o dever de pensar, acima desse próprio direito. Digo, pensamento crítico, lógico. Porém elas escolhem não fazê-lo, e culpam as outras pessoas pelo próprio fracasso.

Mas eu não entendo a necessidade de buscar em outros ações e atitudes e incumbi-los de responsabilidades que a própria pessoa deveria e poderia fazer. Ainda em uma sociedade alienada pela própria ausência de criticidade da massa, busco maneiras de abafar as falhas gritantes presentes em cada célula viva pensante que reside no mundo. E não encontro, por ora.

Meus pensamentos otimistas são corrompidos pela minha falta de ação e me sinto triste ao notar a minha possibilidade de grandiosidade imersa num caos de comodismo e covardia. Ao mesmo tempo que me nego a desistir da possibilidade de mudança externa, meus pensamentos estão embaralhados num labirinto interminável.

De qualquer maneira, vou contar exatamente o porquê da necessidade da criação deste diário. Impossibilitado de encontrar pessoas que me entendam, talvez por características minhas, não enxergo em outros o suficiente para exteriorizar minhas ideias. Faço isso em pedaços de papel, que já é o suficiente.

Hoje à tarde notei o carteiro vizinho brigando com sua mulher, ao mesmo tempo que passava no noticiário um caso de violência racial por parte da KKK. Talvez isso explica minha inquietude perante os problemas individuais das pessoas, problemas esses que mais tarde culminam em corrupção mental, levando a atitudes antiéticas e impensáveis. A minha maior tristeza é perceber que apesar da vontade de mudança, eu não entendo a maioria destas motivações, que surgem nas pessoas. Eu não entendo a base destes problemas, e não enxergo nenhuma maneira de repor a humanidade das pessoas em certos casos. A preguiça da mudança na maior parte dessas pessoas parte do mesmo princípio, de forma cíclica, mesmo que a “corrupção” culmine em diversos ramos heterogêneos do Problema Maior nessa sociedade. Isso tudo em minha opinião, apesar de não ter nenhuma base, não ter como provar.

Não sei quando volto a escrever nestes libertadores pedaços de papel. Não é porque sou muito atarefado, tal qual um professor desempregado definitivamente não é. Mas pelo simples fato que preciso espairecer e pensar mais sobre o assunto. Acho que vou à Nuremberg...

Pierre von Schläffen

Leonardo Nali
Enviado por Leonardo Nali em 21/06/2017
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