ASAS DE FOLHAS DE CARNAÚBA
Depois do episódio da malfadada caça a arribaçã, o Caboclo resolveu seguir os conselhos de sua amada Cigana e nunca mais mexeu com as “bichinhas”, muito pelo contrário, fez do local do antigo ninhal, uma espécie de santuário, mandou até levantar uma cruzeiro em lembrança das avezinhas do diacho, do cão, do pé-sujo, mortas por sua causa, Afinal, mesmo tendo àquelas arribaçãs um acordo com o pé-sujo, eram filhas de Deus!
Ah se arrependimento matasse... pensou... inda bem que num matá... falou sozinho, o mania! 'E vamos seguir em frente...', disse a si mesmo.
Os dias foram se passando, devagarzinho... sem pressa... Toda noite a Cigana sentava diante de sua penteadeira de Pau-d’arco e ficava ali, penteando seus cabelos negros, longuíssimos, que seu homem nunca a deixava cortar, por que segundo ele, é a crina da égua que deixa o garanhão doido!
Cercada pelos seus cremes e perfumes vindos de todos os lugares do mundo por onde andara nos tempos de vida no circo, ela ficava horas ali, vestida com seu camisolão longo, sempre de cores vivas, preferencialmente, "rojo" como ela costumava dizer, porém bem justo em seu corpo farto e torneado, de longas fendas, que apesar de mostrar pouco, insinuava muito, e isso, sabia ela, deixava seu macho do sertão, seu francês improvisado, tarado! Coisa que ela amava... A Cigana, podia ser muito calada, mas adorava sexo! O caboclo? nem se fala...
O Caboclo jamais se fez de rogado depois que o sol se punha. Ceava cedo e, podia ser o que fosse a ceia, uma horinha depois, ele estava tomando seu chazinho de boldo, para ajudar na digestão e capim santo para relaxar... Tudo com um pouco de açúcar preto pra adoçar, Tudo vindo das próprias terras. Ah... E um cálice de seu vinho do porto, onde ele sempre colocava os seguintes ingredientes dentro da garrafa do liquido preciso, única bebida alcoólica que bebia: Alecrim, Chapéu de couro, Catuaba, cascas de Mororó e suco de Romã! Ei Menino, Deixava a rola do Caboclo tesa feita uma barra de aço!
Depois meu véio? Era rola a noite toda! A Cigana gemia e se retorcia na cama como se fosse uma cobra na areia quente, a "zuadeira" dos dois fazendo babado era tanta, que era impossível disfarçar. Uma vez, sua mãe sem saber o que dizer enquanto conversava no alpendre com uma vizinha de região e comadre, sem saber o que dizer diante daquele geme-geme vindo de dentro da casa grande, teve que se sair com uma desculpa esfarrapada:
_Comadre, evita, minha fia, andar por aí sozinha, né que voltou a ter suçuarana aqui na região comadre! Já pensou o perigo? Dá pra escutá a bichana miar daqui!
_ Imagino sim comadre... Imagino sim... Dando uma de doida, respondendo com a boca torta pelo cachimbo que pitava, se fazendo de desentendida da safadeza que estava ocorrendo dentro da casa entre o casal donos da fazenda, para não constranger a comadre.
Daí, imagine que neste ritmo de galo, ou de bode pai de chiqueiro, nem a Cigana, nem o Caboclo davam conta mais de quanto “hijos” haviam colocado no mundo, fruto do amor e tara de ambos. "Um casal feliz? Trepa todo dia...", esta e a verdade, dizia o Caboclo satisfeito.
A labuta na fazendo do caboclo era intensa, logo cedinho, ainda quando a lua e a estrela d’alva ainda estavam firmes na escuridão que ia embora e o clarão se achegava, ele, sua esposa, e os pouco trabalhadores da casa juntamente com os agregados, já estavam de pé se preparando para a lida do dia. Ou zanzando mesmo, caçando o que fazer.
O quebra-jejum era farto, e ocorria entre às três e meia e quatro horas da matina, era um "cumêzim" pouco variado, porém forte. Quase uma ração de Bicho! Comida de nordestino do sertão, "bom, pesado e cheio de sustança"... Macaxeira, inhame, leite, café, queijo, carne... muita carne sempre.
Podia ser de qualquer bicho, dependendo da situação, até Carcará virava galinha torrada! Verdade, podia ser de qualquer coisa, mas carne tinha que ter. Quando a coisa estava boa, geralmente tinha um pé seco torrada ou a cabidela, um bodinho cozido, um preá, um peba, um tejuaçú... Enfim, um luxo só.
O Caboclo, era um dos primeiros a se alevantar, para se preparar para a lida junto com seu amigo a quem chamava Tição, quando estava de bem com a vida... E de coisa pior quando acordava com o ovo dos culhões virado ao avesso!
Tição era uma lapa de nêgo de pouco mais de dois metros de altura, forte feito um touro, de corpo escultura, parecendo um Deus africano, de corpo moldado nas suas próprias tradições alimentares e no trabalho duro da fazendo.
Tinha lá seus 35 anos de idade, ainda era mais moço que o caboclo e ainda tinha pegado um restinho de escravidão, naquela mesma fazenda, onde ele nascera. Era nêgo Mandinka e tinha muito orgulho de suas origens. Herdará de sua mãe toda sabedoria de seu povo através de sua mãe e sempre levava consigo um lindo cricifixo do tamanho da mão aberta de um adulto. Era um crucifixo de Nosso Senhor da Boa Morte, feito em Prata e resina de cajueiro misturado com carvão para ficar negra. Herança de sua mãe... De sua Avó... De sua bisavó... Agora dele. Então, com tão alta estima, só aceitava os apelidos do Caboclo pois o tinha como um irmão, amigo. Se fosse outro? A lapa de nego partia em dois com um único gingado de capoeira!
De sua mãe, tinha mais uma lembrança coletiva do que específica. Lembrava mais do que ela o ensinara, mas de convívio mesmo, tinha poucas lembranças pessoais. Ele fora criado feito bicho, criado por várias várias pretas, todas muito carinhosas, porém, não lembrava exatamente no meio da negrada quem era ela. Agora do pai... Ah, este num tinha dúvida não. Era o preto véio Firmino.
Aliás, depois de inhá Ceiça, a cozinheira da casa, ele era o morador da fazenda mais antigo e véio que só... Quantos anos? O povo dizia que ele tinha mais de cem... Talvez duzentos... Ou talvez, imortal!
Tinha certeza de que era filho do preto velho Firmino porque sabia que o velho tinha sido negro de reprodução, embora o preto velho gostasse de contar a noite, sentado no alpendre, histórias do tempo dos antigos, evitava sempre falar de si mesmo e dos antigos patrões da casa justificando sempre:
_fala de alma? Tá tantã? Eles ainda moram aqui...
O preto velho Firmino era um dos que ficavam por ali, este último, pegou muito tempo de escravidão mesmo. Trazia nas costas marcas profundas da malvadeza dos patrões. Era um dos que ficavam por ali, pelos cantos da casa grande copiando conversa com um, com outro... Todos os dois o caboclo gostava de conversar com o preto velho, sabia que ali morava a sabedoria. O conhecia desde a mais tenra infância, e muita gente já havia inté pega o caboclo nos braços, outras até mesmo quando ainda estava nos cueiros.
Apóis, havia entre proprietários, trabalhadores da casa e agregados, uma cumplicidade, uma lealdade, uma amizade forte e bonita, agora sempre muito bem delimitada de forma sutil, porém claramente existente entre quem mandava e quem obedecia. “Era de lei!”, dizia o Caboclo.
O despertador da casa era o cantar do galo juntamente com o cheiro de comida ficando pronto pronto no fogão a lenha onde o fogo crepitava. Só que sentar-se à mesa mesmo, para encher o bucho e depois sair arrotando e peidando, só depois de ter se vestido para a lida com o gado, coisa do Caboclo e do negro Tição.
Depois vinha a reza, coisa que sua Cigana não abria mão. A reza era feita na capelinha da fazenda, diante de um lindo oratório feito e ricamente esculpido pelo preto velho Firmino. Em frente ao oratório,
As orações matinais eram conduzidas pelas mulheres da casa, geralmente iniciada pela Cigana, a patroa. Depois, vinhas as orações do preto velho firmino e de Tição. Em seguida, de quem desejasse externar sua fé.
Momento das orações matinais eram no mínimo, " Sui Generis". Durante as rezas, alguém tinhas umas tremedeiras aqui e acolá. O preto velho Firmino mudando de voz, aquela coisa que o caboclo, no meio das orações abria os olhos e via gente revirando os olhos, fazendo o caboclo logo fechar seus olhos com medo de ver demais...
Oh Caboclo frouxo com negócio de assombração! Dizia ele:
_Aquilo que num pode ser furado de bala ou de faca, e que num sangra, é coisa do demo!!
Seu companheiro de cela e labuta com o gado, o negro Tição dizia:
_ Medo de assombração? Tenho não visse patrão... Tú tem é? Com a bocarra cheia de dentes alvos num sorriso de deboche. Tendo como resposta do caboclo:
_Respeita quem manda nêgo sem vergôie! Pensa que a chibata morreu foi? Em tom que o nêgo Tição, sabia que era achincalhe de patrão... Amigo.
_Depois do bucho cheio, a lida tinha início primeiro com a soltura do gado e depois com os demais trabalhos da fazenda, do roçado à lavagem e quaragem da roupa da casa.
Lá pelas nove da manhã, vinha o pequeno-almoço, que nada mais era que a repetição do cumê da madrugada só que acompanhado de feijão de corda, uma qualhada e mais carne. Em seguida vinham os encaminhamentos das lidas domésticas para as mulheres mais novas da casa e do restinho de tralho de roça, criação e gado para os homens, de modo que, lá pelas onze horas, doze, no máximo, podia se dizer que a lida de trabalho já tinha se acabado, restando agora partir para a terceira refeição, a mais generosa de todas.
Menino! Era uma fartura só: feijão macaça, macaxeira, inhame, batata-doce, capote, pé-seco, um bodezinho que é de lei, uma buchada, qualhada, suco das frutas da estação... Oia... Era cumê de empanzinar, né a toa que no sertão o camarada só morre de véio, empanzinamento...
As vezes, muitas vezes, de bala na cara! Mas só se for metido a arrochado!
Ah, não podemos esquecer as sobremesas para poder tomar água. Era fio de ovos, doce de semente de gergelim, alfenim, umbuzada, doce de caju, doce de mamão verde com coco... Era outra lambança de cumê.
Más o Caboclo... Sei não vice...
_Ô Ômi inventador da muléstia, num sabe viver de faixo baixo, Dizia o preto-velho.
Um dia, depois de uns três dias de trabalhar feito um jumento, chega na hora da comida ficar e fica sem comer nada, feito mulher buchuda, entojado todo.
A Cigana foi perguntar a ele se estava insatisfeito com ela, se faltava alguma coisa em casa... Na cama talvez?
_Marido, Estoi moi preocupada coa falta de apetito do meu marido. Fixen os máis deliciosos manjares para el e el nada come! Será que teño deixado a desexar na nosa cama? Sexa que xa non me quere como muller?
_ Nem de jeito, nem de maneira! É que... Sei não minha prenda, sei não o que é... Ando sem fome mesmo. Acho que é rabo cheio, safadeza de quem tá feliz, tem tudo e num vê!
_Marido, deixou de me amar?
_Nunca minha prenda do oriente! É entojo, abuso, ludum... Sei lá! Coisa de sertanejo mesmo...
_Na verdade, estes dia tenho pensado muito em meus tempos de menino, vendo a florada dos Paus-D’arco lá fora e me alembrei do tempo que eu ia comer favo de mel de abelha no meio do mato... E de repente, deu aquela vontade de fazer de novo num sabe?
_Ah, mi amado, se ah meu amor!! Se é este o problema, mando un criado da casa buscar o mel que lle gusta tanto, listo! está resolto o problema!
_Ai é que tá minha odalisca dos cabelos de graúna... Já indo agarrando a esposa na cozinha da casa enquanto todos dormiam feito gato embaixo de bica, enfiados cada um numa rede num canto da casa. O Caboclo sabia que, apesar de ser o hômi da casa, era manicaca todo e só fazia tranquilo e em paz, aquilo que sua Cigana dissesse: Vá mi amor! Se não fosse assim, ele nem se arriscava.

Sabendo disso, usava logo o método mais certo de fazer ela ceder: Uma bela trepada! Uma pombada de jeito! Num contou conversa, entre mordidas nas orelhas, e alisados aqui e acolá por baixo da anágua vermelha que ela sempre usava, ali mesmo, no meio da sala, meteu a chibata pra dentro de sua amada, sem que ela fizesse o menor esforço ou rogo de negativa limitando-se a dizer:
_Vai Meu home, viola-me! rube comigo! me posúa como un garañón ten a egua! Satisfaga o seu desexo de home eo meu de muller ... Si... Si... Meu amor, vai ti mesmo buscar o que desexas coas bendicións de Santa Sara de Caliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii ... E Xesús Cristo ... Oohhhhhhhhhhhhhh!
No dia seguinte, logo cedinho, quando os primeiros raios do sol ainda não tinham aquecido a terra, o Caboclo foi ao curral dos animais de carga e lá escolheu sua montaria para a viagem. Geralmente ele num teria duvida alguma, iria com seu cavalo Ouro, no entanto, como sabia que sua viagem sem rumo tinha um rumo certo que era os terrenos irregulares das caatingas, dos serrotes e das grotas, deu preferência a levar sua burra mula Fole.
Na medida em que ia preparando a montaria, o preto-veio foi se chegando e passou a ajudá-lo, pitando seu cachimbo de marmeleiro e puxando prosa, tentando assuntar o porque daquela burra mula ter o nome que tinha, Fole. Nome estranho para um animal tão bonito. Ai o Caboclo olhou com cara de poucas palavras, sorriu e resolveu contar como foi. Acabou nem contando como foi porque quando ia começando a contar, deu um abuso, um zim zim, um sei lá no seu quengo que acho que aquele nego veio tava muito é do metido! Mandou o veio para a puta que o pariu e saiu emburrado!
"Cabra bruto..." Pensou alto o Preto Veio, "bruto... Mas bom e sorriu sozinho...".
O Caboclo prosseguiu caçando o que tinha que fazer para sua viagem sem rumo, sem destino e sem objetivo definido; e por isso mesmo, cheia de expectativa boa!
_ Oh vida de felá da puta do caraío! Gritou no meio do alvorecer...
Tudo pronto, montaria preparada, ele todo paramentado como um Dom Quixote de couro de boi, partiu lentamente sem olhar para trás, olhando o sol que começava a brilhar no céu azul e violeta, tendo ao fundo o serrote coberto de paus-d’arco coberto de flores amarelas, violetas, e brancas, uma boniteza só. Quando estava concentrado fazendo suas rezas pedindo proteção a Deus, a Virgem Santa, a Santa Sara de Cali e ao seu santo de devoção, São Dimas, ouviu os latidos do cachorro que vinha atrás dele. Imediatamente, sabendo de como sua Cigana amava aquele cão em especial, um Vira latas muito bonito.
Uma mistura Sabujo com Dog Alemão, com Doberman e sabe lá mais o que, mais bonito e por esta variedade de qualidades raciais caninas, o chamava apenas de cão.
_Volta Cão, volta! E o cachorro nem, nem... e seguiu em frente seguindo seu dono. Diante da insistência do cão, resolveu deixá-lo vir consigo... Quem sabe o bichão num tava adivinhando alguma coisa? Pelo sim ou pelo não...
A caminhada começou lentamente, e o Caboclo resolveu tomar o rumo do leito de rio seco, não era um caminho bom más como tinha bons trechos de areia branquinha e fininha, queria ir por ali, ouvindo o barulho dos bichos que vinham beber da pouca água que ainda se acumulava aqui ou ali entre as pedras. Ouvir a bicharada ele ouvia, agora ver um deles era a coisa mais difícil. Também, se normalmente os bichos da caatinga já sabiam que deveriam evitar os homens, ainda era época de estiagem e por isso, a bicharada evitava ser vista porque sabia que a fome atingia a todos.
Ainda assim, como aquele trecho de terras e águas ainda era terras do Caboclo, e como ele evitava o abuso da caça, só permitindo em épocas certas ou para aqueles vizinhos mais pobres, os animais aqui e acolá davam as caras a ele, como se fosse um São Francisco de Assis, como que premiando sua proteção. Ele ficava feliz.
Seguindo o caminho, gostou de observar tudo ao seu redor, o leito do rio de areia branquinha com pedras que lembravam a ele suas andanças pelas terras do oriente, as enormes arvores como Umbuzeiros, Paineiras, barrigudas, Catingueiras e tantas outras, uma verdadeira farmácia natural como no caso do Pião Roxo que, em caso de picada de cobra, “Que deus o livre!”, bastava comer seu miolo e rezar para que a conversa do povo estivesse certa!
Como a época era de estiagem, a mata ainda tava um pouco verde, porém muito espinhosa o que tornava sua adentrada na caatinga um movimento vagaroso e cuidadoso. Mesmo protegido ele e sua burra mula fole com armaduras de couro, ainda assim um ou outro espinho acabava por adentrar na carne de ambos.
Ele, nem se preocupava muito com ele mesmo, era cabra bruto, criado no meio do mato, se cortando, se furando, se arranhando e caindo de pedra grande e árvore comprida. Agora, com sua montaria ele se preocupava realmente. Sabia que um espinho daqueles encravado em uma pata do alazão, se não fosse visto e retirado logo, poderia inflamar e causar muito dor ao animal, uma judiação! Fora o risco de ter que sacrificar o bicho para evitar o sofrimento.
O caboclo resolveu seguir pelo leito do rio e em determinado ponto, resolveu apeiar da montaria e dar descanso a ambos. buscou abrigo embaixo de uma enorme Umbarana, onde acendeu fogo e fritou alguns pedaços de charque para comer com farinha. Enquanto a carne fritava,ele cavucou a terra na base da árvore e lá encontrou depois de cavar uns trinta a quarenta centímetros, um nó de raiz de Umbarana.
Utilizando dos conhecimentos dos antigos, fez o que foi ensinado a fazer para a obtenção de água em época de estiagem braba. arrancou o nó da raiz com um bom golpe de facão e descascou e fatiou a bolota úmida de raiz, colocando as fatias fininhas num lenço que torceu sobre sua lata e viu escorreu a água que aquele nó de rais retinha. Não deu muito... Mas deu o suficiente para saciar a sede.
Depois de saciar sua sede, já perto do pingo do meio dia, voltou sua atenção ao crepitar da charque na frigideira e jogou farinha... E comeu de se fartar... E deu uma fraqueza... E dormiu.
Ao acordar, já na boquinha da tarde, resolveu arrumar as coisas rapidamente e antes que ficasse logo escuro, tratou de preparar sua guimba, a fim de levar consigo um pouco de fogo e ganhou o mundo junto com sua montaria. Não montou, preferiu dar descanso ao animal e segui caminho caminhando apreciando o sol que ia se deitando, momento em que o silêncio do calorão dá lugar as zuadas das friagens noturnas...
Em certo trecho da caminhada pelo leito do rio, viu uma linda Craúma amarela em flor, observou o monte de insetos que a rodeavam e principalmente de abelhas... Abelhas! Mel!! Era isso!!! Agora sabia o que o fez ganhar o mundo, Qual o motivo de seu intojo.
Estava todo este tempo em busca de reviver momentos de sua meninice, tempo em que perdeu seu cabaço comendo a cabra Tidéia! Oh... Saudade. o Caboclo era cabra de péia mesmo!
A Craúna estava longe. Parecia perto por que era uma árvore enorme, gigantesca mesmo, deveria estar alí desde os tempos de pedro Alvares Cabral pensou... Para espanto do Caboclo, a medida que ele se aproximou da árvore, notou que aquele movimento de abelhas era muito mais intenso e que sua colméia era imensa!
Ao ver a colméia, o Caboclo ficou até emocionado, encheu a boca d'água e imaginou que dali iria saciar sua fome de vida e aventura, levar outras coisas boas para casa que as abelhas produzem. Só que tinha um paranauê no meio a ser resolvido. As Abelhas.
Como a colméia estava muito alta, ela não sabia que tipo de Abelhas eram, mas sabia que, se fossem as danadas das abelhas africanas, a coisa iria dar mais trabalho.
Tomada a decisão, procurou uma ísca e gravetos finos e grossos para acender uma fogueira bem abaixo da colméia a fim de que a fumaça da fogueira espantasse as abelhas. pegou sua guimba e acendeu a ísca, de ninho de rolinha abandonada, que acendeu os gravetos, que cresceu o fogo com os galhos mais grossos. Daí a um instantinho, tava o fogareu no meio do mundo.
Para que a fumaça fosse um pouco mais espessa, jogou um pouco de bosta seca de vaca em cima junto com algumas folhas de Carnaubeiras que estavam ali por perto.
O Caboclo sentou, tomou uma bicada de cana, fez uma careta e observou que o movimento da bichinhas tinha reduzido muito, então resolveu subir na árvore em busca de seu prêmio. Prêmio é? Começada a escalada, logo o Caboclo estava no topo da árvore metendo a mão na cumbuca alheia. No começo as Abelhas nada fizeram só que, nada fizeram as Abelhas fêmeas que estavam em casa certamente fazendo a janta dos maridos Abelhões!
Que merda! gritou o Caboclo ao ver o enxame de Abelhas maridos que vinhas em cima dele com todo o gaz para defender suas "mulheres" e sua propriedade. O Caboclo se viu em um mato sem cachorros, sem nada e depois de sentir uma abelha adentrar seu furico e dar uma ferroada mesmo no Oio do seu butico, não contou duas conversas e se jogou lá de cima rogando a Padim Ciço uma solução...
No meio da queda, revirou-se feito um gato maracajá e conseguir agarrar suas folhas de palmeiras de carnaúba e vendo as abelhas todas, até as filhotinhas atrás dele ainda em queda, se danou a se abanar para afugentar as abelhas e, bateu as folhas com tanta força que, saiu voando daquele lugar...
Diante de seu desespero, cada vez batia as folhas de carnaúba com tanta força que aos poucos vias as abelhas irem ficando para trás... Mas, chegou uma hora que o Caboclo sentiu cansaço e vendo um açude lá embaixo, encomendou a alma e deixou de se abanar.
_ Valha-me meu Jesus! Minha Santa Sara de Cali! Ou me livra ou me mata logo neste caraí! Gritou num misto de clamor e blasfêmia. Típico dele.
Caiu, escapou da queda e vendo ao longe uma bodega foi até ela para tomar uma bicada de cachaça. Entrou... Olhou para todos... Todos Olharam para ele e ele perguntou onde estava.
_ Em Macau.
_ Onde Cabra bom?!
_ Macau.
Sem que ninguém entendesse nada o Caboclo sorriu. Menino, o medo as picadas das abelhas foi tão grande que ele bateu as folhas de carnaúba por tanto tempo e com tanta força que saiu voando num piscar de olhos de sua região o Alto-Oeste Até a beira do mar...
_ O senhor aceita uma meladinha? Perguntou o budegueiro...
_ O Caboclo levantou a cabeça, olhou o budegueiro nos olhos e disparou...
_ Vai tomar no teu frânio caraí! Eu quer lá esta cachaça de merda com mel!!!! E saiu sem rumo, praguejando para todo lado.



CONTINUA...
ELIZIO GUSTAVO MIRANDA DOS SANTOS
Enviado por ELIZIO GUSTAVO MIRANDA DOS SANTOS em 18/06/2017
Código do texto: T6031115
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