BICHO DE PÉ
Uma coceirinha deliciosa ia iniciando.
Às vezes nas dobrinhas por baixo dos dedos dos pés.
Às vezes entre as unhas e a pele do dedão ou na barriguinha dos outros dedos do pé.
Às vezes de lado no dedão.
Como era delicioso ficar tocando o dedo onde repousava o bichinho.
Coçar o dedo no portal da porta da cozinha, no degrau que dava acesso a varanda.
Era uma sensação prazerosa ficar coçar às escondidas.
Pois se papai vesse coçando já ia conferir com seu canivete pontiagudo.
O jeito era coçar com o olhar esperto para ver se não tinha ninguém vendo.
O bichinho medonho ia crescendo.
Logo não dava mais para coçar onde ele estava, então, coçava mais por longe.
O dedo ia ficando meio roxo e o bichinho ia virando uma batatinha.
Mais parecida uma maquete cebolinha.
Era nesse período que papai não dava trégua.
Com seu canivete bem afiado, ia chuchando o bichinho, coitado!
Às vezes saía pela metade, a moranguinha estourava.
Às vezes saía inteirinha e ficava o buraquinho.
Colocava querosene para desinfetar.
O lugar do bichinho ainda ficava coçando por algumas horas.
Parecia que o bichinho estava ali morando.
Mas era ilusão!
Bicho de pé!
Parece que hoje não se vê mais isso!
É isso aí!
Acácio Nunes