Eu tenho uma Tia que trabalha ali ...!
E aquela criança, sempre que passava na frente daquele imenso Hospital, não esquecia e dizia: “Eu tenho uma Tia que trabalha ali !”.
Por que, era tão importante aquela lembrança ?
Era uma vez, (professoras de português detestam isso) uma criança que estava para nascer, recebeu, propositadamente a “visita” da sua Tia.
Ainda no ventre materno, não se deu conta da importância da presença daquela pessoa, que veio de tão longe, arriscando-se não no “apagão aéreo”, mas, na época, no “aéreo apagado”, sem luz, sem a exata e nem aproximada previsão meteorológica, no desafio, vou de ônibus, pego trem e chego de avião ! É a coragem que só o amor faz acontecer de verdade ...
Cansada, foi dormir de madrugada.
Chegou cedo na maternidade daquela ínfima cidade do interior. Fez-se presente e disposta, principalmente disposta e corajosa.
Irmã a parir. Atenção constante ...
Chegou a hora ! E o médico, onde estava ?
Enfim ele chegou. Mas a “criança” já havia começado a nascer, o que foi abruptamente interrompido, pois na “técnica”, a gestante deveria estar na “Sala de Parto”. Orgulho ? Talvez ... Prepotência ? Nem tanto ... Medo ? Sim ! Sem dúvida ! Um nome, uma reputação a zelar ...
E o nascituro, sem saber se estava realmente nascendo, ou sendo devolvido ao lugar no qual habitou o suficiente, nem teve tempo de ser “consultado” sobre a “escolha” !
Finalmente o parto ! Uma criança que não “chorou”, não “urinou” sequer, e (muito menos “riu” !!!) como acontece com a maioria dos recém natos, e levada pela Tia Enfermeira e pai médico, ao berçário, aspirada, limpa e posta em observação, após a mamadeira no fogão de lenha, graças à Tia. E três dias de agonia, será ?
Durante anos, desde o nascimento conturbado, até aproximadamente ao meio século de existência, a Tia sempre esteve presente ! É o que consta da realidade de uma incerteza futura ...
“Eu tenho uma Tia que trabalha ali ...!“.
E isso, sempre foi o suficiente para aquela criança de cinqüenta anos, pois o sentimento de segurança, é fundamental para qualquer ser, recém nato ou “velho sem vergonha” ! O importante é que, hoje, aquela Tia já não trabalha mais ali, e sim, octogenária, ainda cuida “daquela criança” ! Aquela que viu “nascer” ... cansada daquela viagem !
Mas ... sempre foi e é grande o orgulho da criança ao dizer:
“Eu tenho uma Tia que trabalha ali ... !!!”.
Por Alexandre Boechat