Vida de menina
Eu sempre acreditei que a vida poderia ser difícil, mas não esperava que para mim ela fosse tão mais difícil a maior parte do tempo. Desde criança percebia que coisas ruins sempre poderiam acontecer comigo, sempre esperava da vida uma nova situação que me fizesse sentir alguém totalmente sem sorte. A minha família era paupérrima, meus pais viviam de um lado para outro tentando encontrar um lugar que pudesse nos dá comida, era apenas isso que queríamos comida. Mas eu, eu estava sempre sonhando, sonhando com um homem lindo, chegando em um cavalo branco e me resgatando daquele mundo pobre, aquele mundo da fome. Pois amigas, eu sonhava com um príncipe em um cavalo branco, hoje com certeza as meninas sonham com algum automóvel de luxo e veloz e o príncipe de repente pode até não ser príncipe.
A verdade é que eu me sentia fora de meu tempo, eu criava histórias em minha cabeça que acontecia somente lá e quando eu voltava para a realidade eu via apenas vidas secas, lugares inóspitos, em que as pessoas perambulavam por aí buscando não sei bem o quê. A minha infância sempre foi rodeada de fome, quase sempre meu pai trabalhava para alguém em troca de algumas sacas de feijão e farinha, tinha época em que vivíamos melhor, outras tivemos que dividir até a água com os animais, água, quero falar disso, lembro que a água em meu lugar de nascença era algo que sumia por alguns meses e tínhamos que sair por aí a procura dela para poder sobreviver, com isso aprendi com meu avô como encontrar lugares que de repente podem minar água e assim fazermos as tão famosas cacimbas, famosas em meio aos sertanejos nordestinos.
Eu não entendia muito de muitas coisas, mas sabia que às coisas eram bem injustas a maior parte do tempo para o meu pai, ele sempre foi um homem trabalhador, mas às vezes se mostrava fraco, mas hoje entendo, a vida era traiçoeira, ele tinha que sustentar oito bocas e mais minha mãe, então, a sua fraqueza vinha do medo que tinha de buscar de ir além daquele espaço em que vivíamos, então ficamos ali esperando não sei o quê. A minha mãe sempre achava que tínhamos que fugir daquele lugar e algumas vezes ela até tentou nos levando de um lado para outro procurando lugar melhor, acho até que a minha mãe não tinha muito orgulho de meu pai, mas pudera, um homem simples que conhecia apenas a terra seca e tinha que lutar para não morrer ali.
Em meio a tudo isso os meus sonhos de menina continuavam, eu esperava e esperava o dia que eu pudesse voar dali, às veze eu olhava os pássaros e percebia que muitas vezes eles sumiam de lá e quando reapareciam eu ficava me perguntando por que voltaram ou se aqueles eram os mesmos que se foram um dia, não tinha como saber, mas eu era decidida, se um dia eu pudesse ir assim como os pássaros eu não voltaria mais àquele lugar, eu voaria até bem distante até me perder e não conseguir encontrar mais o caminho de volta, ouvir alguém dizer, não me recordo agora quem, que quando estamos perdidos temos que voltar ao que éramos quando criança para reencontrar a si mesmo, não sei se quero reencontrar aquela menina tão seca quanto a terra em que vivia, sei apenas que ainda tenho medo, medo de ter que voltar, talvez seja algo louco pensar assim, sonho ás vezes com aquele lugar e fico a pensar que de repente deve ser pelo medo que tenho de ter que voltar.
Dalva Duhau