A (in)decisão
Debruçou-se na sacada, o dia apenas começava. Sol tímido surgindo atrás do edifício da esquina, um céu com nuvens. Baixou o olhar, viu a cidade despertando: pessoas, veículos num vaivém pela rua. As árvores margeando as calçadas. O semáforo a poucos metros. Os ônibus, as bicicletas. O que mais?
Entrou. Importante guardar na retina. Valeria a pena? Olhou para a porta do quarto, continuava fechada. Rabiscou uma nota. Não, melhor não. Atirou-a no lixo. Sim, era preciso. Arrancou outra folha do bloco: aquela folha branca na sua frente, desafiando-o. Poucas palavras.
Passos largos para fora. Passos decididos, estava acostumado. Um executivo de sucesso. Um executivo de ... Pensou um palavrão. Bloqueou-o. Por que droga pensar em problemas? Querido! Não, melhor partir. Enfrentamentos podiam ser fatais. Enfrentamentos...
Pôs o pé na rua, pegou o primeiro táxi. Aeroporto, por favor. Uma nova vida abrindo-se. Nova em folha. O sorriso saiu torto. Os problemas, velhos. Empedernidos. Forçou o sorriso: era um homem de sucesso. Uma vida nova para um velho homem.